Crítica | Maligno (The Prodigy) [2019]

Nota do Filme:

Maligno acompanha Sarah (Taylor Schilling) e Peter Blume (Peter Mooney), pais de Miles (Jackson Robert Scott), criança cujo comportamento estranho passa a levantar suspeitas. Após um encontro com Arthur Jacobson (Colm Feore), a matriarca fará de tudo para esclarecer o que há de errado com o seu filho e decidir se deve protegê-lo, ou eliminá-lo.

Com uma premissa genérica, o longa tem, como tarefa primordial, diferenciar-se dos incontáveis filmes semelhantes que surgiram recentemente. Há, hoje, um equívoco acerca do que constitui uma boa narrativa do gênero, o que fez com que a indústria cinematográfica tenha encontrado, no terror, um meio fácil e rápido de conseguir retorno em seus investimentos, com tramas simples e pouco trabalhadas.

Infelizmente, não há muitos fatores positivos a serem ressaltados acerca de Maligno. Nesse sentido, destaca-se, apenas, a atuação competente de Taylor Schilling e Peter Mooney. Jackson Robert Scott varia bastante, mas não compromete o produto final. Todavia, seu roteiro preguiçoso, previsível e extremamente desinteressante, de modo algum consegue justificar a própria existência. Pior, sequer consegue superar até mesmo as mais baixas expectativas.

Isto porque a história conta com problemas intrínsecos, que surgem desde o início do filme. A introdução de Edward Scarka (Paul Fauteux), logo na primeira sequência, extingue qualquer senso de suspense que o longa poderia vir a desenvolver. Nesse sentido, não há um twist satisfatório apresentado à audiência.

Ao mesmo tempo, por mais que não seja outro roteiro que envolva “possessão demoníaca”,  a diferença é tão sútil que chega a ser desnecessária. Miles não está, tecnicamente, possuído, mas a prática da situação é a mesma. Tem-se como relevante mencionar tal questão, uma vez que o longa gasta considerável tempo para tentar diferenciar os dois fatores, porém sem sucesso.

Ademais, há um problema evidente no que diz respeito ao ritmo da obra. Por vezes apressado, de modo que personagens aceitam fatos estranhos à sua própria natureza de maneira tão rápida que chega a ser cômico, por vezes lento, o que faz com que conexões óbvias a qualquer ser racional demorem dias para ser feitas. Destaca-se, assim, que o último ato dificilmente saciará o espectador, vez que situações evidentes são tratadas como surpreendentes, ao mesmo tempo em que a história não apresenta uma resolução satisfatória.

O empobrecimento de tais tipos de roteiro é uma consequência natural à noção de que jump scares substituem a atmosfera necessária ao gênero. Não há porquê a indústria cinematográfica se preocupar com consistência no que diz respeito à narrativa, de modo que filmes como Babadook e A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale) se tornam cada vez mais escassos, enquanto que longas como Exorcismos e Demônios (The Crucifixion) e A Freira (The Nun) surjam com cada vez mais frequência.

Sendo assim, Maligno é o exemplar perfeito acerca da distorção que o “terror” sofreu nos últimos anos. Sua trama desinteressante é rivalizada apenas pela sua extrema previsibilidade. Por mais que Taylor Schilling e Peter Mooney tentem, a obra estava fadada ao fracasso desde a sua concepção.