Crítica | A Freira (The Nun) [2018]

Nota do Filme:

Texto feito em parceria com o site Água de Salsicha.

A Freira segue um monastério recluso da Igreja Católica na Romênia, formado exclusivamente por freiras. Elas vivem em total isolamento, até que o suicídio de uma jovem integrante do local atrai maiores atenções.

Para investigar a ocorrência, o Vaticano envia Burke (Demián Bichir), padre especialista na resolução de tais situações, e a noviça Irene (Taissa Farmiga). No pequeno vilarejo, são recepcionados por Frenchie (Jonas Bloquet) e, assim, o trio deve descobrir, afinal, se forças malignas assolam o local.

A Freira é o segundo spin-off da franquia “Invocação do Mal”. Seu foco é no demônio Valak, responsável por grande parte da tensão que ocorre em Invocação do Mal 2. Ainda, aborda-se não apenas o seu surgimento mas como, eventualmente, seu caminho veio a se cruzar com Lorraine e Ed Warren.

 

 

Temos, aqui, uma das sagas de terror mais bem sucedidas da década. Desse modo, por mais que Annabelle e Annabelle: A Criação não sejam filmes excepcionais – sobretudo o primeiro -, é seguro afirmar que havia certa expectativa para uma nova expansão do universo em questão. Todavia, infelizmente, não temos aqui um longa à altura dos originais.

Há pontos positivos a serem abordados. Nesse sentido, a ambientação da obra é bastante eficaz em, de pronto, imergir o espectador em um local isolado e repleto de mistérios. A despeito da sua grande extensão, o convento passa, de maneira constante, uma forte sensação claustrofóbica, o que a transforma em uma atmosfera propícia ao terror.

Irene é, verdadeiramente, devota à religião católica. Entretanto, não possui um tipo cego de fé, motivo pelo qual abraça diversos questionamentos, tornando-a mais relacionável ao espectador médio. Assim, o roteiro consegue, com facilidade, criar uma protagonista empática, tornando a narrativa, naturalmente, mais envolvente. Ainda nesse tópico, a química de Taissa Farmiga e Jonas Bloquet é convincente, o que faz com que a interação entre os personagens seja sempre interessante.

 

 

Outra forte qualidade é o gancho que o longa consegue fazer com os filmes originais. A ligação só surge, verdadeiramente, ao final da história, mas demonstra que houve considerável preocupação em torná-la não apenas crível como interessante e divertida. O cuidado se mostra válido e certamente agradará aos fãs da saga.

Entretanto, os fatores negativos pesam na obra. A começar pelo personagem do Padre Burke, que nunca demonstra, com clareza, qual a função que deve desempenhar. Suas interações com todos os personagens carecem de naturalidade, sobretudo quando essa pessoa é Irene. Uma vez que ambos são os protagonistas da história, seu relacionamento deveria ser muito mais orgânico do que de fato é.

Há que se ressaltar, também, estranha edição da obra. Certos cortes quebram o ritmo de maneira desnecessária. Ainda, a película conta com sessões meramente expositivas e totalmente desconexas para com o resto da narrativa. Dessa forma, por vezes temos uma experiência cinematográfica cansativa. Falta, à película, uma maior fluidez, para que as cenas dialoguem melhor entre si. Não temos, aqui, uma direção inspirada[1].

 

 

Tem-se, ainda, que por mais que haja uma atmosfera propícia ao terror – conforme comentado nos parágrafos anteriores -, esta nunca chega a atingir níveis relevantes devido ao uso excessivo de humor como método de quebra de tensão. A utilização de personagens cômicos para este fim não é novidade no gênero, contudo, aqui, essa situação ocorre com tamanha frequência que afeta de maneira irreparável a aura que o conto busca transmitir.

Desse modo, A Freira conta com alguns poucos aspectos positivos, como boa ambientação e boa construção de sua protagonista. Entretanto, o saldo final é negativo, uma vez que tais fatores são de tal forma maculados que a experiência simplesmente não vale a pena. Apenas mais um filme de terror esquecível que, se não fosse o nome da franquia que carrega, dificilmente seria produzido.

[1] A direção ficou a cargo de Corin Hardy.