Os prêmios do Oscar nem sempre são unânimes, o que acaba por despertar uma série de polêmicas, choques e indignações (e às vezes até mesmo dúvidas sobre a lisura do processo). É sabido que as escolhas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas funcionam como qualquer outra eleição tradicional – o que implica em muita puxação de saco campanha pelo voto final -, mas, mesmo assim, espera-se que as obras e os nomes vencedores sejam minimamente aceitáveis. No entanto, ao longo de seus quase cem anos de existência a premiação já deixou muita gente incrédula em função de resultados, digamos assim, estranhos.
E isso é algo que vale, naturalmente, para todas as categorias (exemplos não faltam), mas o espanto é sempre maior quando se trata do maior prêmio. Sendo assim, listamos a seguir cinco vezes em que o Oscar de Melhor Filme foi um tanto questionável.
Como Era Verde o Meu Vale, em 1942
Para muitos amantes do Cinema, 1942 também é conhecido como “O ano em que Cidadão Kane perdeu”; precisa dizer mais? O clássico de Orson Welles, que raramente fica de fora das listas de melhores de todos os tempos, foi indicado a nove categorias mas só faturou a de Melhor Roteiro Original. E o grande “culpado” por tamanha surpresa foi Como Era Verde o Meu Vale, de John Ford. Não que a obra de Ford seja ruim, mas é difícil imaginar, em um mundo ideal, outro cenário que não fosse a premiação de Welles.
O Maior Espetáculo da Terra, em 1953
Até hoje, muitos não entendem como O Maior Espetáculo da Terra conseguiu superar o favorito – e muito melhor – Matar ou Morrer, ainda mais quando constatamos que, fora o principal prêmio, o longa só recebeu mais um (o extinto Melhor História Original). A explicação mais plausível é de que a Academia se sentiu obrigada a celebrar o trabalho do diretor Cecil B. DeMille, que naquela noite receberia um prêmio pelo conjunto da obra. Seja como for, a trama ambientada em um circo é irregular demais para ser deixada de fora dessa lista.
Dança com Lobos, em 1991
O Poderoso Chefão III, Os Bons Companheiros, Tempo de Despertar, Ghost – Do Outro Lado da Vida. É indiscutível que a disputa em 1991 foi uma das mais concorridas e niveladas por cima, e também é verdade que a produção de Kevin Costner possui belos momentos e uma história digna, mas, passados quase trinta anos, ainda há aqueles que, se pudessem, chamariam o VAR do Cinema para mudar a decisão.
Shakespeare Apaixonado, em 1999
A edição de 1999 foi especialmente traumática para os brasileiros, pois vimos Central do Brasil perder Melhor Filme Estrangeiro para A Vida é Bela e a entidade chamada Fernanda Montenegro foi preterida em benefício de Gwyneth Paltrow e sua não muito inspirada atuação em Shakespeare Apaixonado. Mas talvez o maior disparate da noite tenha sido o medíocre longa estrelado por Paltrow ter levado a estatueta mais cobiçada para casa.
Green Book: O Guia, em 2019
Na cerimônia de 1990, Conduzindo Miss Daisy dividiu opiniões ao vencer o grande prêmio da noite. A maneira condescendente como o racismo foi abordado incomodou muita gente, especialmente considerando que Faça a Coisa Certa sequer havia sido indicado. Quase vinte anos se passaram e, mostrando estar atenta aos sinais do tempo e atualizada em relação às discussões contemporâneas, a Academia decidiu cometer os mesmos erros, seguindo um roteiro praticamente idêntico. Assim como no primeiro caso, uma pessoa branca conhece uma pessoa negra em uma relação passageiro-motorista e passa a rever seus preconceitos. Assim como no primeiro caso, a boa intenção está ali, mas maneira como a história é conduzida (com o perdão do trocadilho) é desastrosa. Assim como no primeiro caso, esse tipo de narrativa triunfa em detrimento de um filme de Spike Lee (Infiltrado na Klan, com o bônus de que Pantera Negra também estava concorrendo). Que o Oscar tenha cometido esses deslizes no final do século passado já é questionável; que tenha feito tudo de novo em pleno 2019 é imperdoável.
Historiador que acredita que a vida fica mais fácil quando vamos ao cinema.
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