Crítica | Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove/A Man Called Ove) [2015]

Nota do Filme :

É difícil alguém admitir que está errado. Principalmente quando a pessoa está errada há muito tempo.

No ano de 2015 fomos agraciados com uma adaptação do livro “Um Homem Chamado Ove”, de Fredrik Backman, para o cinema. Na trama para as telonas, o cineasta sueco Hannes Holm roteirizou e dirigiu o longa de modo a ser fiel a tudo o que Backman propôs, trazendo muita alegria aos fãs do escritor, que é dono de diversos best-sellers, como “Gente Ansiosa” e “Britt-Marie Esteve Aqui”.

Logo de cara conhecemos nosso protagonista, Ove (Rolf Lassgård), um senhor de 59 anos de idade, sisudo e um pouco rabugento, que possui algumas manias bem características, como a de fazer rondas matinais em seu condomínio antes de seguir para o seu trabalho, a fim de garantir que todos os moradores estejam cumprindo as regras criadas pela administração.

Em um belo dia de trabalho, Ove se vê em uma situação difícil: tornou-se obsoleto e não servia mais para a empresa a qual se dedicou por décadas. Os mais jovens que vieram lhe dar a notícia sugeriram que tal mudança na carreira seria, na verdade, benéfica para Ove, opinião da qual ele discordou veementemente, ficando, inclusive, insultado com tal decisão.

Decidido a dar cabo de sua vida, Ove começa a cumprir algumas tarefas antes de poder se reunir com sua falecida esposa, Sonja (Ida Engvoll), da qual sente muitas saudades; ele decide que não faz mais sentido continuar vivendo sem sua esposa e nem o seu trabalho, estas que eram as únicas coisas que davam sentido à sua vida.

Porém, os planos de Ove são sucessivamente interrompidos por seus vizinhos, principalmente os que acabaram de se mudar para a casa ao lado. Conhecemos neste momento um casal um tanto inusitado, formado por Parvaneh (Bahar Pars), uma mulher falante e simpática e seu marido Patrick (Tobias Almborg), um homem alto e desajeitado, e suas duas filhas.

Além dos novos vizinhos, Ove também precisa lidar com antigas rusgas com seu vizinho Rune (Börje Lundberg) e a esposa Anita (Chatarina Larsson), que agora encontram-se em um momento delicado da vida, já que Rune está incapacitado de realizar suas atividades e depende de cuidados especiais para viver. Anita tenta uma reaproximação com Ove diversas vezes, mas ele insiste em manter os desafetos em dia, assim como as rondas no condomínio.

Antes que se dê conta do que está acontecendo, Ove se vê imerso em obrigações que não estavam em seus planos: agora, tem um gato; é acompanhado em suas rondas matinais pelo vizinho Patrik (Tobias Almborg); tem uma relação de amizade com o garçom da cafeteria, Adrian (Simon Edenroth), e seu namorado, Mirsad (Poyan Karimi), e tudo isso acaba adiando cada vez mais os planos de encontrar a sua amada na vida eterna.

Nós, espectadores, que tanto ouvimos falar durante o filme de como Sonja era maravilhosa, temos finalmente a oportunidade de conhecê-la pelos flashbacks, que nos contam não só como eles se conheceram, mas também muito da vida que levavam e de tudo o que passaram enquanto eram jovens. Ove sempre foi essa pessoa sistemática, mas se deixava levar pelo jeito alegre e animado de sua esposa. Infelizmente, toda essa alegria se foi quando a esposa faleceu, e então Ove se deixou inundar por uma profunda tristeza e descrença na vida.

Pelo recurso dos flashbacks também conhecemos os motivos pelos quais Ove sempre foi tão rígido, e isto está diretamente ligado à forma como foi criado pelo pai, interpretado por Stefan Gödicke. Ove aprendeu a duras penas que tudo o que ele quisesse na vida teria que trabalhar muito para conseguir, e, quando conseguisse, deveria dar o máximo valor a isso. As perdas que sofreu desde tão pequeno formaram esta pessoa tão dura por fora, mas com as melhores intenções e princípios por dentro, o que o tornou um homem único e especial.

Por mais que Ove não demonstrasse, sempre teve o coração gigante. Aos poucos foi cedendo espaço para Parvaneh, ensinou-a a dirigir, deu amor e carinho às suas filhas e tratou-a como se sua própria família fosse; consertou o sistema de aquecimento da casa de Anita e Rune, e buscou ajudá-lo na luta contra os “camisas-brancas”, que tanto o prejudicaram em toda a sua vida; acolheu Mirsad em sua própria casa quando ele mais precisou, e ainda adotou o gatinho, dando-lhe uma casa para morar e comida para comer.

A história de Um Homem Chamado Ove é linda e mostra como um homem bom que passou por momentos difíceis pôde se transformar com o amor de seus vizinhos. A comédia dramática teve tanto sucesso que recebeu duas indicações ao Oscar, sendo uma delas de melhor filme estrangeiro de 2017. Além disso, o longa já conta com um remake hollywoodiano, estrelado por Tom Hanks no ano de 2023, e temos a crítica completa no nosso site.