Crítica | Bumblebee (2018)

Nota do filme:

Bumblebee se passa no ano de 1987 e acompanha o soldado da resistência Autobot B-127 (Dylan O’Brien) que, a mando de seu líder Optimus Prime (Peter Cullen), vai ao planeta Terra, onde deverá montar uma base para Autobots refugiados da Guerra de Cybertron. Contudo, ao ser ferido em combate, perde a suas memórias e a capacidade de falar. Encontrado por Charlie (Hailee Steinfeld[1]) em um ferro-velho, rapidamente se torna amigo da moça e, juntos, irão se ajudar a superar as próprias adversidades.

O responsável pela direção é Travis Knight que, em 2016, dirigiu o ótimo Kubo e as Cordas Mágicas. Ressalta-se que é, ainda, o primeiro live-action no qual o diretor atua. Dessa forma, é o primeiro longa desde 2007 a não ser dirigido por Michael Bay, o que, por sinal, é perceptível, ante a clara diferença de estilos. Desse modo, saem as cores saturadas, os excessivos slow motion, que dão lugar a uma maior sobriedade na filmagem.

Faz-se necessário apontar desde logo que Bumblebee é, de longe, o melhor da franquia Transformers. Destaca-se, assim, que há fatores universalmente criticáveis nas obras anteriores, quais sejam: o elemento humano da narrativa, que jamais conseguiu cativar a audiência; as cenas de ação que, de tão abarrotadas, eram absolutamente indiscerníveis, de modo que era impossível sequer compreender o que ocorria em tela e, por fim; o humor, que jamais funcionou no nível que pretendia.

Explica-se, então, que Charlie, responsável por dividir o protagonismo com o personagem-título, não é meramente um estorvo ao espectador. Ao contrário, conta com o seu próprio arco narrativo, no qual existe desenvolvimento satisfatório de sua personalidade. Seu passado é responsável por definir as suas ações no presente e, ao se sentir deslocada de todos ao seu redor – um sentimento que, certamente, é relacionável aos mais jovens –, encontra, no alien, um amigo para ajudá-la.

Ademais, há uma competência no elenco de suporte. Megyn Price, Stephen Schneider, e Jason Drucker, familiares da personagem de Hailee Steinfeld, não aparecem com frequência, mas acrescentam profundidade à sua performance. Jorge Lendeborg Jr. dá vida a Memo, vizinho e amigo da garota e, apesar de não haver nada de errado com a sua interpretação, pouco acrescenta à trama, sendo um dos pontos negativos da história.

Acrescenta-se, também, que a obra conta com excelentes cenas de ação. Nesse sentido, conforme dito anteriormente, ao contrário do frenesi típico da franquia, Bumblebee foca o seu combate de uma maneira competente, com poucos cortes e distrações. Não se trata, ressalta-se, de algo desprovido de adrenalina e/ou lento, ao contrário, o embate é rápido, intenso e, por vezes, brutal. A diferença é que é permitido, à audiência, compreender a luta.

Ocorreu, também, uma melhora significativa no humor da narrativa. Ocasionalmente, os comentários cômicos não funcionam, entretanto, via de regra, conseguem divertir o espectador. Uma excelente mudança, ainda mais se levarmos em consideração a comédia estereotipada de seus antecessores.

Outrossim, há um sentimento de familiaridade quanto ao roteiro[2]. Comparações com E.T. – O Extraterrestre e, principalmente, O Gigante de Ferro, são inevitáveis. O conto de uma jovem que encontra um alienígena alvo do governo não é algo inovador. Entende-se, então, que Bumblebee é a prova viva que scripts com claras inspirações não precisam se limitar a ser uma mera cópia de um trabalho anterior, podendo aproveitar a oportunidade e cunhar uma história completa em si mesma.

Não se trata, entretanto, de um filme perfeito. Nessa seara, destaca-se que, por mais que o militarismo americano do longa conta com mais camadas e menos exagero que outros obras de Transformers, ainda exista uma padronização perceptível. Concomitantemente, por mais que o elemento humano esteja presente de maneira de maneira envolvente, subsistem problemas na sua inserção em determinadas cenas de ação.

De qualquer forma, tem-se Bumblebee como uma grata surpresa de uma franquia da qual pouco se esperava. Com uma direção mais atenciosa e contida, Travis Knight conseguiu trazer nova vida ao produto. Complementado por uma ótima atuação de Hailee Steinfeld, tem-se aqui um conto sensível acerca de uma amizade pouco provável, que se fortalece a cada nova adversidade.

[1] A atriz é mais conhecida pelo seu papel em Quase 18 e Bravura Indômita.

[2] Segundo Hailee Steinfeld, Kelly Fremon Craig, diretora/escritora/produtora de Quase 18 co-escreveu o filme. Contudo, uma vez que o trabalho não foi creditado, não há certeza se as alterações foram utilizadas.