Crítica | Oitava Série (Eighth Grade) [2018]

Nota do filme:

Crescer sempre foi difícil. A sensação de impotência que toma o ser humano frente a ruptura inevitável da zona de conforto, contra o imprevisível que está para chegar a qualquer momento, é comum a todos. E o cinema adora trazer novas histórias desses momentos de transição, com perspectivas frescas ou diferentes, se tornando impossível o espectador não se identificar com alguma daquelas situações mostradas em cena.

E o filme abordado nesse texto não foge a regra acima, porém ele possui uma solidez que o diferencia dos demais do gênero pelo fato de saber que sua narrativa é simples, não tentando se vender como algo revolucionário ou diferente do gênero, apesar de ser superior em relação a maioria das comédias adolescentes que levantam essas questões, conseguindo mesclar todas as dúvidas que surgem nesse período, como questões sexuais, relacionamentos e autoestima, sem cair na obviedade, apenas a utilizando de forma coesa.

Com isso, para atingir esse resultado, o roteiro consegue estabelecer perfeitamente essa estrutura, se tornando bastante inteligente por conta dos questionamentos e conclusões levantadas pela protagonista, alguns em forma de monólogo, tendo ainda a narrativa feita de forma bastante envolvente, na qual não há furos evidentes, se tornando uma historia redonda em que há um inicio, meio e fim satisfatórios para a audiência.

Alem disso, o diretor Bo Burnham, que também assina o roteiro, consegue executar uma direção muito fluída, aplicando moderadamente o uso de câmera na mão e de planos abertos, sendo visível uma forte influência de Stanley Kubrick na direção por conta da maneira em que a imagem se abre, além de inovar na forma de se realizar os monólogos do roteiro, aplicando eles como se fossem vídeos para o YouTube que a protagonista grava.

Outro fator interessante que vale ressaltar é a edição, que em grande parte da narrativa acaba mesclando uma imagem sobre a outra a fim de criar a percepção da protagonista sobre algum determinado assunto ou objeto, além de estabelecer o ritmo da historia, sendo mais rápida como se a transição estivesse sendo mais apressada, ou mais devagar quando a personagem aproveita determinado momento.

Aliás, a trilha sonora liga todos os elementos presentes no longa dando-o contornos tenebrosos, como se o medo estivesse presente por conta da mudança inevitável, aplicando uma aura mais sombria na atmosfera do filme, porém sempre de forma leve por conta das resoluções apresentadas, se tornando um diferencial que chama a atenção por conta disso.

Da mesma forma que todos esses elementos se interligam de forma excelente, a química entre eles se eleva por conta da adição da atuação da pequena Elsie Fisher, que consegue passar muito bem todo o nervosismo por conta desse momento, além das preocupações sobre amizades e relacionamentos, sempre de forma singela, além de que ela interage muito bem com o resto do núcleo em qualquer situação apresentada, se tornando assim uma grata surpresa para o todo.

Logo, o filme se torna uma surpresa de 2018, não tentando se tornar maior do que foi planejado, e acaba renovando um pouco esse tipo de narrativa, visto que já se encontra um pouco desgastada, sem falar que é um conto atual que relaciona os problemas da geração Y frente a modernização da tecnologia, e como esse avanço afeta e influencia as relações sociais a nossa volta.