Crítica | Biutiful (2010)

Nota do Filme:

Ainda na onda dos filmes de Alejandro González Iñárritu, vamos falar hoje brevemente sobre Biutiful, um dos filmes menos apreciados da filmografia do mexicano. Com o fim da trilogia da morte, em que analisamos Amores Perros, 21 Gramas e Babel, vamos para uma nova fase do diretor, com um filme linear e mais lento na exposição, dando espaço para uma construção profunda dos personagens e suas vidas. Logo nas primeiras cenas conhecemos nosso protagonista, Uxbal (Javier Barden), e sua filha mais velha, Ana (Hanaa Bouchaib), em uma conversa íntima sobre os medos e anseios dele quando era criança. A relação dos dois é um dos pontos fortes da trama, graças à sensibilidade da menina com as questões do pai.

A rotina de Uxbal consiste, basicamente, em ganhar a vida arranjando trabalho para imigrantes coreanos e nigerianos que vivem ilegalmente em seu país, além de usar seus dons mediúnicos para auxiliar os mortos a fazerem uma passagem deste plano para o além em paz. Ele sabe que suas práticas não são lá muito morais, mas ele tenta sobreviver e dar condições dignas para seus filhos da melhor forma possível. A relação dele com Ana e Mateo (Guillermo Estrella) é de amor, mas não de muita paciência, o que é compreensível, tendo em vista seu estado de saúde e as condições financeiras que vivem.

A mãe das crianças, Maramba (Maricel Álvarez), é uma mulher instável e excêntrica, um tanto devido à sua bipolaridade, mas também por suas escolhas erradas na vida, como, por exemplo, o fato dela se relacionar com seu cunhado, Tito (Eduard Fernández), às escondidas. A relação dela com os filhos e o marido é, por óbvio, conturbada, cheia de altos e baixos e com rompantes de fúria direcionados ao filho mais novo, este que também demonstra ter suas próprias dificuldades, mas não é ouvido nem pela mãe, nem pelo pai.

Uma família problemática tem um novo – e grande – problema em tela: Uxbal descobre que está doente e não tem mais muito tempo de vida. Com medo de deixar os filhos desamparados, ele começa a correr atrás de melhores condições de emprego para os imigrantes, visando, é claro, uma melhoria na sua fatia de ganhos. As tentativas egoísticas do homem acabam piorando a situação de uns e trazendo consequências irreversíveis para outros, de modo que todos os seus esforços acabem sendo em vão. Ele esconde a sua condição de saúde de seus familiares, a fim de preservá-los e, principalmente, de evitar qualquer tentativa inútil por parte deles de mudar o seu destino.

Ainda que não seja a melhor construção narrativa do diretor, o roteiro imprime, com toda a autenticidade que só ele tem, uma história de miseráveis que trabalham para pessoas tão miseráveis quanto, de famílias desestruturadas, e também de amor em meio ao caos. Escrito pelo diretor juntamente com Armando Bo e Nicolás Giacobone, parceria esta que viria a se repetir em Birdman, e com edição de Stephen Mirrione, temos uma história sensível e única de uma Barcelona suja, corrupta e cheia de histórias para contar. Há poucos diálogos expressivos durante a trama, sendo marcada por momentos contemplativos dos personagens e com cenas muito simbólicas, como, por exemplo, as cenas inicial e final.

Com cores frias e saturação alta, a sensação de estarmos sufocados em alguns momentos da trama é inquestionável, e este é um dos motivos do estilo de Iñárritu não ser muito bem quisto por alguns espectadores. Ele faz com que o público se sinta próximo dos personagens, vivendo toda aquela miséria e tristeza com eles, e nem todos estão preparados para experiências tão viscerais como as proporcionadas por seus filmes. Para assistir ao longa e viver toda essa experiência, basta acessar a plataforma de streaming da Amazon, o Prime Video.