Nota do Filme :
Seguindo a trilogia da morte de Iñárritu, temos em 21 gramas, na minha opinião, o melhor dos três filmes, sem sombra de dúvidas. Assim como em Amores Perros, primeiro filme da trilogia, aqui os personagens também se conectam por um acidente de carro. Conhecemos primeiro o misterioso Paul Rivers (Sean Penn), um homem que está morrendo de câncer e espera urgentemente um transplante de coração para poder retomar a sua vida. Do outro lado da cidade vive Cristina Peck (Naomi Watts), uma mulher rica, casada com um arquiteto e mãe de duas lindas meninas. Completamente alheio aos dois primeiros personagens, um ex-presidiário, Jack Jordan (Benicio del Toro), tenta mudar o rumo de sua vida pela fé.
A priori parece impossível que esses três se encontrem em algum momento da vida, e esta é uma marca registrada da trilogia da morte, visto que o diretor traz histórias de pessoas de mundos completamente diferentes que acabam interligados por um evento incomum em suas vidas, sempre rodeados pela morte, ou pela quase morte. Enquanto em Amores Perros as histórias seguiram de forma linear, em 21 gramas a história foi contada de forma completamente embaralhada, o que instigou ainda mais a curiosidade do telespectador para saber como aqueles personagens chegaram naquele ponto da vida.
Outro recurso utilizado é o hiperlink, já mencionado na nossa análise da semana passada, em que o personagem ou a ação residem em histórias separadas e a conexão entre eles é lentamente revelada ao público. A forma de conectar os eventos no filme parece idêntica a olho nu, já que ambos comportam histórias de pessoas que tiveram suas vidas devassadas depois de um acidente de carro. Porém, quando entramos na história, vemos que a semelhança é meramente superficial.
Em Amores Perros, as três histórias somente sofrem as consequências do acidente, ao passo que em 21 Gramas os personagens acabam se conhecendo e fazendo parte um da vida do outro graças ao acidente provocado por Jack, que estava com pressa de chegar para a própria festa de aniversário, preparada por sua esposa, quando, por um descuido, acaba mudando a sua vida, a de sua família, a de Paul e a de Cristina.
Iñárritu traz questões morais à tona quando aborda a vida de quem aguarda na fila do transplante de órgãos, a tentativa daqueles que buscam mudar de vida pela fé, a insistência de outros em relacionamentos falidos e, é claro, o luto, abordado sob a luz de quem perde todos os membros da família e acaba ficando sozinho. A morte transforma aqueles que ficam, assim como aqueles que a provocam, bem como os que dela se beneficiam, ainda que indiretamente e sem intenção.
É um filme cru, intenso e incrível, que provoca emoções dos mais diferentes tipos e merece muito mais reconhecimento do que teve até então. Com um elenco de peso, tanto na frente quanto atrás das câmeras, Iñárritu consegue entregar um drama marcante e envolvente, com roteiro do seu costumeiro parceiro Guillermo Arriaga, que também trabalhou com o diretor em Babel, último filme da trilogia, que já tem crítica no nosso site, e pode ser conferida neste link.
Sou muitas em uma só. Como já dizia o Gato da Alice: We’re all mad here. 🙂