Crítica | Babel (2006)

No dicionário a palavra “Babel” significa confusão, de acordo com a Bíblia, essa confusão foi o que fez as pessoas da Torre de Babel descerem e confundirem as línguas dos outros homens, portanto, criando idiomas e novas etnias, tudo isso em locais diferentes, preenchendo a terra com humanos.

Logo, Alejandro Gonzalez Iñarritu, ao nomear seu filme de “Babel”, indica que seu filme será uma confusão de cidades, povos, etnias e línguas, mostrando como a terra foi preenchida com a raça humana e como essa é variada, criando culturas diferentes e igualmente vastas.

A confusão funciona, não que o filme seja confuso e difícil de entender, mas as histórias são vastas, se passando em quatro lugares diferentes, com quatro línguas diferentes e com pessoas diferentes. Chieko (Rinko Kikuchi) é uma adolescente japonesa, moradora de Tóquio, que acaba de perder a mãe, surda e morando apenas com o pai, eles tentam superar a saudade. Ahmed e Youssef, são dois irmãos vivendo no deserto marroquino e depois que seu pai comprou um rifle, eles atiraram sem querer em um ônibus, ferindo Susan (Cate Blanchett) em viagem com o marido Richard (Brad Pitt), esse último se dedica a leva-la a um hospital, enquanto isso, seus filhos estão sendo cuidados por Amélia, uma mulher mexicana, que os leva ao casamento do seu filho, sem os pais das crianças saberem disso.

Como em quase todos os filmes de Iñarritu, a obra se liga por um ponto em comum que afeta os personagens de maneira diferente, no caso, o ferimento de Susan. Mas por se passar em cidades diferentes, línguas e fusos horários variados, a estrutura adotada é interessante, por usar flashbacks e flashforwards para contar a história.

Dessa forma, conhecemos todos os personagens e compreendemos suas atitudes, identificando os erros cometidos por eles no meio do caminho. Mas, principalmente, percebemos a confusão que todos vivem em suas respectivas rotinas, umas diferentes das outras, mas todas igualmente difíceis.

Difíceis por causa do sentimento de empatia que o filme causa, levando o espectador a se colocar no lugar dos personagens, isso se deve as atuações do elenco competente, com destaque para Kikuchi, que cria em Chieko uma espécie de síntese de todos que foram retratados ali, fora que as cenas com ponto de escuta subjetivo do arco dela são muito bem feitas, reforçando a empatia citada.

Iñarritu consegue fazer com que as histórias tenham seu clímax e desfecho no mesmo momento, com tudo acontecendo de uma vez e fechando os arcos e as ligações criadas pelo acidente, a partir de cortes bem encaixados e falas que realizam essa conexão de maneira orgânica, as vezes é imperceptível como um arco está ligado ao outro.

Apesar dos vários cortes, Iñarritu mantem seu estilo de fluidez entre as cenas, usando mais o corte seco para mudar de um arco para o outro do que como ferramenta para criar movimento, assim, as cenas são bem fluidas, com a câmera bem próxima dos personagens e se movendo de forma diferente dependendo da história, por exemplo, no caso de Chieko a câmera se move mais devagar, no caso de Richard e Susan, os movimentos são rápidos, como se estivéssemos assistindo a um documentário rodado em plena guerra.

Ou seja, a confusão que Iñarritu cria em Babel, faz com que a obra seja elegante, necessária ao expor várias culturas e, principalmente, ensina que devemos respeitar um ao outro independente das confusões particulares que estejamos passando em nossas vidas.