Crítica | Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation) [2017]

Nota do Filme:

Annabelle 2: A Criação do Mal acompanha a chegada de seis órfãs e uma freira à residência de Samuel Mullins (Anthony LaPaglia) e sua esposa Esther (Miranda Otto). Anos após a trágica morte de sua filha Bee (Samara Lee), o casal tenta seguir adiante, acolhendo as meninas de um orfanato recém fechado.

Dentre as jovens estão Linda (Lulu Wilson) e Janice (Talitha Eliana Bateman), melhores amigas que sonham ser adotadas pela mesma família. Entretanto, à medida que as garotas vão se familiarizando com a residência, acontecimentos estranhos fazem com que questionem, afinal, até que ponto vai a sinceridade de seus anfitriões.

Annabelle 2: A Criação é uma sequência muito superior Annabelle. Tendo em vista a qualidade de seu antecessor, porém, tal feito não é nenhuma conquista hercúlea. Todavia, sobretudo no gênero terror, o segundo[1] filme ser melhor que o primeiro é uma ocorrência rara e, portanto, digna de menção.

 

 

De pronto, então, percebe-se que o longa conta com pontos positivos contundentes. Nesse sentido, consegue, rapidamente, estabelecer o espectador em seu “território”. A abertura, com foco na família Mullins, é bastante competente em precisar o estado de espírito do casal em uma época na qual a sua filha era viva. Desse modo, por mais que Samuel e Esther só voltem a aparecer quando as garotas chegam do orfanato, não é difícil deduzir o quão difíceis foram os seus últimos anos.

Ainda, é impossível não se compadecer com Linda e Janice. Sua amizade, forjada em uma situação de grande adversidade, possui aquela inocência natural às jovens crianças sonhadoras. Tal fator é complementado por uma atuação convincente das atrizes, o que transforma as suas interações em um dos pontos altos da obra.

A tensão é bastante presente no desenrolar da trama. A fotografia do filme evoca um tom natural de terror, ajudando a construir uma boa atmosfera. A direção é eficaz em manter uma sutileza que combine com a imagem transmitida, o que já demonstra uma familiaridade do diretor David F. Sandberg com o gênero.

 

 

Ademais, ao trazer personagens novas à residência dos Mullins, o roteiro transforma a casa em importante ponto da história. Uma vez que é rodeada por mistério, está fadada a ser investigada pelas suas novas residentes, ainda mais se levarmos em consideração a idade das crianças. Desse modo, a audiência acompanha as protagonistas em cada descoberta, aumentando a imersão da trama.

Entretanto, infelizmente, em determinado momento do filme, problemas começam a surgir, de modo que certas falhas se tornam aparentes. Primeiramente, percebe-se a evidente desnecessidade de quatro das seis meninas que chegaram à residência. Isto porque, com exceção de Linda e Janice, nenhuma outra tem qualquer papel relevante na história, fazendo com que seja impossível não se indagar por qual motivo, afinal, o roteiro não preferiu manter apenas as principais.

Há, também, o problema clássico do gênero – mas nem por isso aceitável – no qual ocorrem ações desconexas da realidade. Sabe-se que pessoas em situação de estresse não agem de maneira totalmente racional, motivo pelo qual comportamentos incongruentes são aceitos. Todavia, quando tais atitudes são desprovidas de qualquer sentido ou, pior, vão de encontro ao que está claramente demonstrado na realidade, deixa de ser algo permitido e se torna uma falha na construção da história.

 

 

Ainda, seu clímax não apresenta qualquer resolução interessante acerca da trama. A boa construção da primeira metade do filme se perde, tornando-se algo genérico e sem personalidade. A conexão que faz com o seu antecessor carece de lógica e não se sustenta frente a qualquer análise de continuidade, por mais que, a primeira vista, tenha detalhes interessantes.

A impressão final é de que, caso não estivesse atrelado à franquia, o longa poderia ser muito mais convincente. Isto porque conta com certos momentos realmente impactantes que, infelizmente, perdem importância quando analisados no contexto da obra.

Desse modo, tem-se que Annabelle 2: A Criação conta com boas ideias que, até certa medida, são executadas de maneira competente. Entretanto, o desenrolar da sua história acaba sabotando o que foi criado, tornando-o confuso e desconexo. É possível encontrar alguma satisfação ao assistir ao filme, sobretudo na concepção de suas protagonistas, mas está longe do que a franquia pode entregar, como já demonstrado por “Invocação do Mal” e “Invocação do Mal 2”.

[1] Não apenas é o segundo filme como é um prequel do primeiro, que, por sinal, é um prequel de Invocação do Mal.