Crítica | Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2) [2016]

Nota do Filme:

Invocação do Mal 2 continua sua jornada em outro conhecido caso dos Warren. Após o famoso acontecimento em Amityville, ambos decidem parar de trabalhar em novos casos, devido à uma visão de Lorraine (Vera Farmiga) envolvendo seu marido Ed (Patrick Wilson).

Ao mesmo tempo, Janet (Madison Wolfe), filha de Peggy (Frances O’Connor) e irmã de Margaret (Lauren Esposito), Billy (Benjamin Haigh) e Johnny (Patrick McAuley) apresenta sintomas preocupantes. Uma vez que a mídia está ciente do ocorrido e, com medo do caso visar apenas publicidade, a Igreja pede que o casal investigue para saber se, de fato, há algo sinistro ocorrendo.

Após um decepcionante Annabelle, os fãs da franquia foram presenteados com Invocação do Mal 2, continuação de fato do original. Aqui, ocorre algo raro no cinema em geral e quase inexistente no gênero terror: uma sequência que supera o seu antecessor. Isto porque o longa acumula todas as qualidade de Invocação do Mal, ao mesmo tempo em que expande sua temática e mitologia. Desse filme serão lançados dois spin-off’s[1], demonstrando a ambição de James Wan em criar um verdadeiro universo.

Quanto à história em si, é impressionante a delicadeza que foi acrescentada à obra. A interação do casal – especialmente Ed Warren – junto às crianças da família é tocante. É nítido seu caráter prestativo, que busca não apenas auxiliar no que tange ao sobrenatural, mas também ajudar a família a se reerguer de seus problemas pessoais.

Dessa forma, se à noite sempre há problemas em Green Street, o dia é bastante leve. Existe espaço para músicas, brincadeiras e diálogos esperançosos. Aumenta-se, então, o contraste entre a paz que o sol fornece e a aflição que a escuridão traz. Não se trata, importante ressaltar, de um filme desprovido de terror. A atmosfera que o longa transmite ao espectador é inquietante, como se esse equilíbrio pudesse ser quebrado a qualquer momento.

Esses fatores são complementados com boas cenas envolvendo Lorraine. Dessa vez um pouco mais afastada do núcleo familiar, cabe, à personagem, a solução do mistério acerca do que efetivamente acontece nesta pequena casa do subúrbio de Londres. Afinal, estariam as crianças fingindo o incidente, apenas pela publicidade? Há certa descrença, por mais que o casal Warren tenha uma tendência a dar saltos de fé. De qualquer forma, as coisas fluem de modo natural e orgânico, culminando em um clímax excelente.

A cinematografia da película colabora – e muito – com a atmosfera criada. Há um cuidado com as imagens apresentadas, de modo que servem, desde o começo, como antecipação para acontecimentos futuros. Aqui, há o cuidado que faltou ao filme Annabelle, de modo que os fatores da obra se complementam de maneira harmoniosa, o que faz com que o todo seja maior que a soma de suas partes.

A qualidade na atuação permanece. Patrick Wilson e Vera Farmiga possuem excelente química. O relacionamento do casal injeta um realismo raro em longas que abordam o sobrenatural. A preocupação e o carinho que sentem um pelo outro é quase palpável, e há uma sensação real de crescimento a cada crise que enfrentam.

Ainda, seria relapso não mencionar a pequena atriz Madison Wolfe. Em uma performance excepcional, a jovem que à época tinha apenas 14 anos consegue transmitir todas as emoções que sua personagem requer. O modo como consegue nos passar uma sensação de terror e, logo após, transmitir grande vulnerabilidade é digno de reconhecimento.

Nesse sentido, como dito no texto de A Entidade 2, lembra-se que utilizar atores/atrizes mirins é sempre um perigo. É consideravelmente mais difícil ao(à) diretor(a) transmitir a sua visão. Felizmente, como no presente caso, quando essa aposta compensa se tem um resultado memorável. Isto porque crianças acrescentam um toque de inocência à história – sobretudo no gênero terror – que é simplesmente impossível de se alcançar apenas com adultos. Dessa forma, a espantosa atuação da jovem ajuda a elevar a qualidade da película como um todo.

Desse modo, James Wan[2] demonstra que ainda tem muito a oferecer ao gênero. Com o foco mais humanizado, a obra nos apresenta o retrato de um casal prestativo, que está disposto a tudo para auxiliar uma família desesperada por ajuda. Sob os cuidados do diretor, temos um fantástico conto de altruísmo e coragem.

Assim, Invocação do Mal 2 consegue o impressionante feito de superar o seu antecessor. Ademais, o sólido desfecho da história, acompanhado por excelentes performances, elevam o filme a um patamar diferenciado, tornando-o não apenas obrigatório aos amantes de terror como também atraente o bastante aos “não-iniciados”.

[1] A Freira será lançado no dia 06.09.2018. The Crooked Man foi anunciado em 2017, ainda sem previsão de estreia.

[2] Segundo a imprensa, foi ofertada, ao diretor, uma quantia indecente de dinheiro para que voltasse e dirigisse a sequência de Velozes e Furiosos 7. James Wan recusou a oferta para poder dirigir Invocação do Mal 2. Em seu Instagram postou que se sente rejuvenescido ao dirigir outra história de terror.