Lista | 5 Filmes para começar a perder o preconceito com o cinema nacional (Parte 3)

Depois do estrondoso sucesso de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame) [2019], uma recorrente discussão veio novamente à tona. O ministério da cultura deveria estipular uma cota mínima para a exibição dos filmes nacionais? A questão é: por estar presente em 80% das salas de todo o país, o blockbuster americano acabou tomando o espaço que seria destinado para outras obras lançadas no mesmo período, e isso é um fato.

A difícil produção, veiculação, disseminação e popularização dos conteúdos produzidos no Brasil não são uma novidade para ninguém. Porém, nem todos se importam, de fato, com os desafios impostos neste cenário. Para muitos, o cinema nacional é “fraco”, “superficial” e até mesmo “banal”. Entretanto, essas acusações não são de fato fundamentadas em argumentos concretos ou em experiências próprias,  mas sim, em mero preconceito e achismo, visto que a maior parte dos acusadores não se deu nem ao trabalho de chegar perto das tão criticadas produções.

Para tentar amenizar esse sentimento, nesta lista vamos trazer apenas indicações de filmes recentes e menos conhecidos pelo grande público, uma forma de tentar abrir ainda mais os horizontes para as produções brasileiras. A segunda parte da lista você encontra aqui.

O Último Cine Drive-in (2015)

Nota do Filme:

Ao receber a notícia de que sua mãe está terminalmente doente, Marlombrando (Breno Nina) prontamente retorna para a sua cidade local. Lá, ele reencontra seu pai, Almeida (Othon Bastos), e o cine drive-in onde passou sua infância num estado de semi-abandono por conta da difícil condição financeira da família. Último representante deste tipo de cinema no país, o local funciona, religiosamente, contando com a ajuda de apenas dois funcionários: Paula (Fernanda Rocha), que cuida da loja de doces e da projeção; e Zé (Chico Sant’anna), responsável pela limpeza e por vender os ingressos na porta do local. Entretanto, a falta de dinheiro e os interesses de terceiros transformam o sonho de Almeida e Fátima (Rita Assemany), sua esposa, em algo de difícil manutenção.

Dirigido pelo brasiliense Iberê Carvalho, o longa se apoia em referências e no amor declarado ao cinema – como o nome do protagonista sugere de forma nada discreta. A trama, permeada por críticas sociais a assuntos como a corrupção e a desigualdade social, se encontra, de fato, quando toca nos temas familiares e no saudosismo dos personagens com os anos dourados do cine drive-in. Por mais que tenha atuações medianas, a temática e a bela cinematografia transformam a experiência em algo acima da média.   

Mãe Só Há Uma (2016)

Nota do filme:

Pierre (Naomi Nero) é um típico adolescente de 17 anos, que vive entre festas, sua banda e diversos segredos. Desde a morte de seu pai, sua mãe, Aracy (Dani Nefussi), dedica seu tempo a cuidar dele, da casa e de sua irmã Jacqueline (Lais Dias). Certo dia, ao ser procurado por funcionários do serviço social, o jovem descobre que foi vítima de um sequestro na maternidade e que sua mãe biológica não é aquela com quem ele conviveu a sua vida inteira. Após passar por uma mudança tão drástica, Pierre terá que conviver com sua nova realidade.

Comandado por Anna Muylaert, diretora do excelente Que Horas Ela Volta? [2015], a obra conta, de maneira bastante crua e realista, uma história baseada em fatos. Com um ar bastante independente, o filme aborda assuntos importantes como o relacionamento familiar, a auto-aceitação, o preconceito e até mesmo as injustiças com as quais temos que conviver diariamente – guardadas as devidas proporções, claro. Com um forte elenco de apoio e um desenvolvimento narrativo bastante digno, Mãe Só Há Uma é mais um acerto da ótima diretora paulista.

Todas as razões para esquecer (2017)

Nota do Filme:

Depois de terminar um longo namoro, Antonio (Johnny Massaro) tem certeza de que logo irá esquecer Sofia (Bianca Comparato). Porém, nada é tão simples quanto parece. Ao perceber que é impossível controlar os próprios sentimentos, e que a memória de sua ex não irá sair tão cedo de sua cabeça, o jovem começa a experimentar todas as maneiras contemporâneas que conhece para tentar contornar a situação. Frequentes análises e visitas ao psicólogo, a prescrição de remédios e antidepressivos, horas gastas no Tinder e o consumo obsessivo de pornografia. Nada isso é forte o suficiente para fazer com que os sentimentos ruins saiam de seu peito e pensamento.

Filme de estreia do diretor Pedro Coutinho, a obra é uma ótima opção para quem está à procura de um romance pouco convencional. A trama, que pouco se preocupa em mostrar apenas o lado bom das coisas, é permeada por situações de fragilidade, dor e aprendizado. A antipatia e o estilo de vida despreocupado do personagem principal, mesmo que inicialmente impeditivos, acabam engajando o público a se importar cada vez mais com a situação. No fim, mesmo com decisões de roteiro bastante questionáveis no terceiro ato, a experiência como um todo traz um saldo bastante positivo.

Benzinho (2018)    

Nota do filme:

No subúrbio do Rio de Janeiro, uma família de classe média baixa vive uma vida simples. A mãe, Irene (Karine Teles), que é responsável por cuidar da casa e dos quatro filhos, também precisa se preocupar em trazer renda por meio de seu comércio autônomo no meio tempo em que se desdobra para terminar os estudos. Enquanto isso, seu sonhador marido, Klaus (Otavio Müller), comanda o seu próprio negócio e imagina formas de aumentar a renda para construir a tão sonhada casa idealizada pelo casal. Entre crises de ansiedade e a necessidade de renovação constante de suas forças, os dois precisam se adaptar, rapidamente, às inerentes mudanças que os cercam.  

Dirigido por Gustavo Pizzi e escrito a quatro mãos com Karina, sua ex-mulher e protagonista do longa, Benzinho é uma representação fiel sobre a família e as evoluções e adaptações do nosso dia-a-dia. Com uma fotografia melancólica, sensível e com um ritmo cadenciado, a história tem o poder de conquistar o coração do espectador, muito graças à marcante atuação de Karina Telles. No fim, por mais que se perda no desenvolvimento de algumas de suas subtramas, o filme deixa sua marca.

Ferrugem (2018)

Nota do filme:

Tati (Tifanny Dopke) e Renet (Giovanni de Lorenzi) são colegas de sala. No meio do turbilhão de sentimentos e acontecimentos cuja importância é elevada à enésima potência, ambos encontram o conforto necessário na solidão do celular e das redes sociais. Mesmo tímidos para tomar o primeiro passo, a dupla já troca mensagens, olhares e flertes há um certo tempo. Depois de uma viagem com a turma do colégio, um acontecimento “perturba” a timidez dos jovens e vira suas vidas de cabeça para baixo.

O filme, dirigido pelo baiano Aly Muritiba, é mais uma das milhares de obras a abordar a temática adolescente e da superexposição, voluntária ou não, nas redes sociais. Dividido em dois capítulos muito distintos, a película faz bem a transição entre gêneros e estilos visuais. O roteiro consegue transformar o silêncio e o conformismo de certos personagens em algo mais “barulhento” que os próprios diálogos e conflitos. As atuações dos jovens estreantes Tifanny e Giovanni são ótimas, porém, problemas com o ritmo e com uma certa diminuição no interesse narrativo fazem a trama perder um pouco de força e terminar em um tom mais ameno do que poderia.