Crítica | Turma da Mônica: Lições (2021)

Nota do Filme:

Dois anos atrás, o diretor Daniel Rezende tomou para si o que, provavelmente, foi uma das responsabilidades mais difíceis de toda a sua carreira. Mesmo tendo sido indicado a vários prêmios (entre eles, o Oscar) por seu trabalho como montador em Cidade de Deus e tendo dirigido uma das melhores cinebiografias que pudemos assistir recentemente nos cinemas (Bingo: O Rei das Manhãs), é provável que nada se compare à responsabilidade de levar a Turma da Mônica aos cinemas em live action. Imagine o peso de recriar nas telas pela primeira vez o universo de histórias e personagens que povoam a imaginação de incontáveis gerações de brasileiros há mais de 60 anos?

A boa notícia é que, mesmo com seus defeitos, Turma da Mônica: Laços fez um excelente trabalho na recriação do universo imaginado por Mauricio de Sousa e capta com precisão, não só o visual do Bairro do Limoeiro e de seus moradores, mas a magia de vê-lo se tornar realidade pela primeira vez. O longa inteiro é pura nostalgia e é impossível não ficar emocionado. Dois anos depois, com cenário e protagonistas devidamente apresentados, o diretor volta ao comando da sequência que promete dar um passo adiante na história. Em Turma da Mônica: Lições, a turminha precisa amadurecer diante de certos acontecimentos e o filme dá conta de desenvolver seus conflitos, pessoais e coletivos, para mostrar (tanto para eles quanto para nós) que é possível, sim, crescer sem deixar de ser criança.

No filme, Mônica (Giulia Benitte), Magali (Laura Rauseo), Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) acabam sendo punidos depois de tentar fugir do colégio por não terem feito a lição de casa. Seus pais ficam bem decepcionados e resolvem impedir as crianças de passar o tempo todo brincando juntas. Mas enquanto Cebolinha, Cascão e Magali são obrigados a fazer atividades extracurriculares, Mônica termina mudando de escola e perde praticamente todo o contato com os amigos.

Giulia Benitte e Kevin Vechiatto em cena de Turma da Mônica: Lições.

Com os personagens de volta nesta nova história, Rezende se sente à vontade para ir direto ao ponto, até porque Lições possui um enredo mais complexo do que Laços. Se no primeiro longa a criação de cenas mais “contemplativas” foi importante para que o espectador se conectasse com aquele novo ambiente e seus personagens, no segundo, Daniel resolve deixar essa ferramenta um pouco de lado para dar mais atenção ao desenvolvimento da história em si. Ele continua criando composições muito belas e cheias de referências ao universo de Mauricio, mas acaba focando mais nos arcos dramáticos individuais.

Turma da Mônica: Lições, apesar de ser um filme infantil e ter momentos bastante engraçados, é também muito dramático e a história acerta em cheio ao nunca desmerecer o que as crianças estão sentindo. Existe muita coisa acontecendo ali: a turminha não está apenas sendo afastada, eles não têm apenas que encarar seus maiores medos – eles estão crescendo e esse crescer nunca é fácil. O filme entende bem o que é estar na pele dos personagens e consegue passar para o espectador (mesmo que de forma irregular) o que cada um deles está sentindo e conseguimos comprar suas angústias.

Por outro lado, o grande problema é que ele precisa se esforçar mais do que o necessário para que isso aconteça. Em primeiro lugar, a montagem e o roteiro de Lições são bastante problemáticos e isso acaba afetando o bom desenvolvimento da história. O filme tem uma certa dificuldade em transitar entre o arco de cada personagem enquanto estão separados e o miolo se torna irregular em diversos momentos. Como este é o principal foco do longa, ele acaba se prejudicando em excesso. Infelizmente, o elenco também não dá conta de acompanhar o peso da trama e tem dificuldade na hora de transmitir emoções mais complexas. Por mais que os atores estejam bem mais seguros em seus personagens aqui do que em Laços, o esforço não é suficiente e o filme termina apelando para a trilha sonora para compensar essa lacuna. As músicas, que deveriam ser usadas apenas para pontuar determinados momentos, são usadas em excesso e deixam o filme mais carregado e artificial do que ele deveria ser.

Isabelle Drummond e Gustavo Merighi em cena de Turma da Mônica: Lições.

Da mesma forma que Laços tinha suas dificuldades na hora de desenvolver o roteiro e trabalhar a interação entre os protagonistas, Lições também tem seus problemas técnicos. Mas a questão é que, por mais que estes aspectos atrapalhem quando analisamos o filme como um todo, eles acabam não incomodando tanto aquela que é sua maior arma: o apelo à nostalgia. Turma da Mônica: Lições tem plena consciência do efeito emocional de trazer até o espectador aquilo que ele quer ver e não tem medo de usar esse poder a seu favor. O novo longa vai além do que fez em Laços e entrega um fan service muito bem feito com a inserção de personagens novos que injetam vida à trama e deixam a experiência mais completa e divertida. O público pode esperar muitas participações especiais e momentos de deixar o coração quentinho de tanto amor.

Se Laços trazia o Cebolinha para o centro da ação, aqui é a vez da Mônica ter mais relevância, porém como cada personagem tem seu arco individual, Cascão e, principalmente, Magali ganham mais destaque e protagonizam cenas engraçadíssimas. No fim das contas, Turma da Mônica: Lições, que estreia nos cinemas no dia 30 de dezembro, retorna com o frescor do universo lúdico e colorido do filme de 2019, porém investindo bem mais em novos personagens e fazendo, assim, a alegria dos muitos apaixonados pelos quadrinhos de Mauricio de Sousa. Mesmo com problemas que dificultam o bom desenvolvimento da história, o resultado continua visualmente belo, tecnicamente caprichado e muito esforçado. Um filme inteiramente construído para agradar aos fãs e deles podendo receber aplausos mais que merecidos.