Crítica | Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (Fear Street: 1666) [2021]

Nota do filme:

No último capítulo da trilogia Rua do Medo (você pode conferir a crítica da primeira parte aqui, e da segunda aqui), somos levados ao século XVII para finalmente conhecermos a história de Sarah Fier e entendermos como se iniciou a maldição que aterroriza a cidade e os habitantes de Shadyside.

A partir dos eventos finais da Parte 2, é Deena (Kiana Madeira) quem dá vida a Fier, o que é compreensível tendo em vista a conexão estabelecida entre as duas personagens no encerramento do segundo filme. Menos claro de entender é o porquê de seus conterrâneos também serem interpretados pelos atores e atrizes dos outros capítulos, tendo em vista que não há elementos narrativos ou temáticos fortes o suficiente para justificar tal decisão. Uma possível explicação talvez seja o fato de que os três longas foram rodados concomitantemente, e isso permitiria aproveitar/economizar o elenco.

Se o trabalho da diretora Leigh Janiak foi, por um lado, elogiado em 1994 pela sofisticação ao criar determinadas imagens e, por outro, criticado em 1978 por não ter repetido a dose (além de sua opção por investir em cenas demasiadamente escuras que comprometiam nosso entendimento), aqui a realizadora volta a exibir momentos de inspiração ao elaborar rimas visuais que dialogam de modo eficaz e direto com passagens das outras partes, ressaltando o curso trágico daquela cidade.

O mesmo ocorre com o roteiro, que se utiliza de um recurso parecido ao empregar as mesmas frases que já haviam sido ditas nos filmes anteriores, porém agora em um contexto diferente. Escolhas assim deixam o projeto mais coeso e oferecem ares de continuidade e permanência adequados ao universo que está sendo explorado.

Em contrapartida, o enredo também apresenta certas irregularidades, como uma quantidade considerável de informações mastigadas (o que, justiça seja feita, foi um problema durante toda a trilogia) e uma revelação previsível envolvendo quem está por trás da maldição. Fora isso, é exigida uma generosa dose de boa vontade para que os planos do terceiro ato deem certo, mesmo levando em conta todos os elementos fantásticos da história.

Outro ponto que se tornou uma constante durante a série foi o uso excessivo da trilha sonora, embora dessa vez esse ponto seja mais discreto e incorporado com mais naturalidade na trama. Não há, por exemplo, a persistente inserção de canções para comentar diversos instantes, algo que prejudicou demais seus antecessores.

Mas o que fortalece 1666 e o coloca em um patamar acima em relação aos seus parceiros cinematográficos é ter encontrado um tom definitivo, o que permitiu que sua história fosse contada de maneira mais exitosa. Ao abandonar praticamente toda e qualquer ambição cômica, o longa se vê livre de precisar alcançar o tão desejado equilíbrio entre o terror e a comédia, ficando assim com caminho livre para conduzir sua narrativa com muito mais foco.

Rua do Medo, enquanto série de filmes, possui o mérito de dar a cada uma de suas partes características e identidades próprias, embora em seus dois terços iniciais os defeitos sejam mais visíveis do que as qualidades. Já seu desfecho é mais disciplinado, não por ser mais “sério”, mas por ter mais clareza nos seus objetivos. Fica apenas o lamento por ter levado tanto tempo.