Crítica | Tudo acontece em Elizabethtown (Elizabethtown) [2005]

Nota do filme:

Um homem com uma carreira de sucesso perde tudo do dia para a noite. Ele cometeu um erro muito grave no trabalho, ao qual havia dedicado toda sua vida adulta, e agora não tem mais motivos para viver. Falando assim parece algo pesado, mas não é: Cameron Crowe, diretor e roteirista do filme, nos convida a conhecer o declínio da vida profissional e pessoal de Drew Baylor (Orlando Bloom) em seu último dia de trabalho, narrado pelo próprio personagem em tom satírico, em que ele passa pelos corredores da empresa e consegue reconhecer nos olhares dos colegas de trabalho, inclusive de sua namorada, Ellen (Jessica Biel), a pena que sentem dele. O protagonista é dominado por aquela sensação de que jamais as verá de novo, já que com certeza será demitido, e começa a refletir sobre isso.

Após sua demissão, ele vai para a sua casa, joga tudo o que tem fora e decide, dramaticamente, que é hora de se matar. Quando estava quase atingindo seu objetivo (com uma engenhoca produzida por ele, formada por uma faca de cozinha acoplada a uma bicicleta ergométrica, que, francamente, jamais daria certo), seu celular toca: sua irmã está em prantos. O pai deles morreu. Drew, então, interrompe seu plano de morte e segue para a cidade natal de seu pai, Elizabethtown, já que o pai estava em visita à cidade quando faleceu, e a mãe insiste que ele seja cremado na cidade em que moravam, em Oregon.

Para chegar até lá, ele compra uma passagem de avião de uma linha aérea não muito concorrida, onde conhece a falante aeromoça Claire (Kirsten Dunst), que o ajuda a traçar a rota de carro que terá que fazer para chegar em Elizabethtown. Enquanto traça a rota, Claire conta muito de si e pergunta muito da vida dele, que não dá muita atenção ao falatório da moça e quer apenas descansar um pouco. A conexão entre os dois é instantânea, ainda que somente ela tenha sentido isso nesse primeiro contato.

Após errar o caminho e enfrentar horas de estrada, Drew chega à cidadezinha do interior mais receptiva já vista: havia placas e pessoas demonstrando todo o amor por Mitch (Tim Devitt) espalhadas pela cidade inteira, o que fez o filho se sentir tão confuso que não sabia se acenava, ficava feliz ou se dirigia. A família paterna não era muito próxima à dele, então todos ficaram extremamente curiosos para conhecer o primo distante que fabricava sapatos famosos e era bem-sucedido. O choque foi tanto que por horas ele foi abraçado e apresentado a pessoas novas, e sequer conseguiu falar sobre o pai e a sua morte com ninguém.

Horas depois, já de volta ao hotel, Drew deseja, enfim, algum contato humano com quem já conhecia, momento em que liga para a namorada, para a irmã e para Claire. Após levar um fora pelo telefone da ex e ouvir sobre os surtos da mãe, ele passa horas a fio conversando com a aeromoça, criando, então, uma conexão com ela, da mesma forma que ela já havia se conectado a ele no voo. Os dois falam sobre os assuntos mais diversos, até que a conexão é tão grande que eles precisam se ver pessoalmente, e se encontram no meio do caminho para ver o sol nascer.

A partir deste ponto, ambos desenvolvem uma relação íntima, baseada na mais pura sinceridade e na conexão fácil que acontece entre eles. Conhecemos mais a família, os amigos, as raízes da família Baylor e as possibilidades que a vida pode apresentar quando apenas deixamos que ela nos leve, sem pensar muito no destino, mas sim no caminho a ser percorrido. Drew aprende muito com as conversas que tem com Claire. Ela consegue deixar até o momento mais difícil de sua vida um pouco mais leve, e faz questão de mostrar para ele que a vida é muito mais do que ele imaginava; a vida é, enfim, errar e ter a coragem de continuar tentando.

Tudo Acontece em Elizabethtown é um filme leve e engraçado, do mesmo estilo das comédias românticas que estamos acostumados – e adoramos – ver. Com uma trilha sonora impecável e diálogos marcantes, Cameron Crowe acerta mais uma vez em sua escolha como diretor e nos presenteia com um filme bom para rir e chorar, às vezes até ao mesmo tempo.