Crítica | Eternos (Eternals) [2021]

Nota do Filme:

Muito aguardado pelos fãs de quadrinhos da Marvel, Eternos chega aos cinemas esse mês e deve dividir opiniões. O longa inicia ambientando o público com um texto sobre os Eternals: antigos alienígenas que vivem na Terra em segredo há milhares de anos com o objetivo de defender o planeta dos Deviantes, os inimigos mais antigos da humanidade.

Dirigido por Chloé Zhao, vencedora do Oscar esse ano por Nomadland, era de se esperar uma mudança na fórmula, mas ela segue a cartilha dos filmes de super-heróis, com cenas de ação, discursos emotivos e comicidade, ou seja, a estrutura se mantém, no entanto, é possível notar uma atmosfera diferente e uma pitada de romance, que, diga-se de passagem, pareceu um tanto piegas.

Os Eternos estão há séculos na Terra, defendendo o planeta dos Deviantes. Entre uma batalha e outra contra esses adversários, eles ficam escondidos e até “disfarçados” de seres humanos. A história se passa após os eventos de Vingadores: Ultimato, quando tais inimigos reaparecem ameaçando a paz na Terra. A fim de proteger o planeta, a equipe se reencontra para unir forças contra os poderosos oponentes.

E é nesse ponto que entra a grande questão: ao se deparar com a existência dos Eternals no mundo não há como não se indagar o porquê de eles não terem ajudado nas constantes guerras e ameças enfrentadas com grande risco pelos Vingadores. Tal pergunta é respondida na primeira oportunidade, como esperado, mas não satisfaz, porque em outro momento um dos personagens contradiz a premissa apresentada.

Muito embora conte com mais de duas horas e meia de duração, a narrativa é fluida, entretanto, a obra não consegue explicar direito quem são os Celestiais e para que eles servem. O roteiro vai e volta ao passado com bastante frequência, com flashbacks expositivos que acabam cansando pela quantidade e prologando o tempo, que poderia ser encurtado.

Com muita informação, mas pouca explicação, o longa privilegia os leitores dos quadrinhos em detrimento do público que conhece as histórias dos super-heróis apenas pelo Cinema. Apesar de procurar responder a muitas questões, algumas ainda ficam soltas e novas dúvidas surgem e são ignoradas.

Com atores consagrados de Hollywood, o elenco não deixa a desejar, traz algumas figuras conhecidas, que formam uma ótima química com os demais. Todavia, Gemma Chan (Sersi) não desponta com um potencial necessário para a importância do papel e Angelina Jolie (Theena) parece que está atordoada o filme todo. Harish Patel (Karun) e Kumail Nanjiani (Kingo) destacam-se como alívios cômicos, formando uma dupla engraçada, em que está a maioria das piadas.

Cada Eterno possui personalidade própria e ocupa espaço para se mostrar ao espectador, mas como são dez personagens para serem introduzidos, alguns ganham mais destaque. O personagem Dane Whitman (Kit Harington) é importante para esclarecer as dúvidas do público, ele representa o espectador fazendo as perguntas necessárias para compreensão da história, sendo apenas essa sua função na trama, a princípio.

A película tem um belo visual, o figurino é bonito e tem algumas referências a obras queridas pelo público, como Superman e Star Wars. Os Deviantes são criaturas animalescas que possuem uma aparência potente e assustadora.

O longa também acerta em cheio quanto à diversidade, além de contar com um elenco diverso e inclusivo, com representantes asiáticos, negros e latinos, exibe o primeiro beijo gay do Universo Cinematográfico da Marvel, entre um Eterno, Phastos (Brian Tyree Hanery) e seu marido, Ben (Haaz Sleiman). E, ainda, tem a primeira heroína com deficiência auditiva, Makkari (Lauren Ridloff).

Mas, a obra não escapa aos clichês, com passagens do mocinho mirando a heroína com olhar apaixonado e cenas em que um breve discurso emotivo é capaz de fazer um personagem mudar uma ideia formada, com motivações infantis, revelando-se em um evitável melodrama. Isso, considerando que estamos diante de seres milenares, causa, no mínimo, estranheza.

Além disso, o roteiro falha em trazer soluções rápidas e fáceis em relação a algo que se mostrou improvável e impossível, com um desfecho debilitado, invalidando a narrativa. Em alguns momentos não fica claro o posicionamento de alguns Eternals, os quais precisaram se reunir para decidir sobre algo grandioso. Outro ponto digno de nota foi a atitude machista de um dos heróis que ignorou a liderança feminina para seguir um homem com uma justificativa rasa sem sentido.

Os novos heróis da Marvel podem naturalmente conquistar o público e se consolidar como uma nova franquia, mas é preciso se preocupar com o espectador que conhece os super-heróis pelo Cinema, veículo onde a história está sendo contada e esclarecer mais sobre a origem dos seres até então desconhecidos por esse público.

A sensação é que a trama poderia ter sido facilmente encurtada e o melodrama evitado, mas a confiança na diretora de Nomadland permanece e a inclusão da diversidade foi bonita de se ver na telona.

Eternos estreia em 04 de novembro somente nos cinemas. Possui duas cenas pós créditos.

Direção: Chloé Zhao | Roteiro: Chloé Zhao, Patrick Burleigh, Ryan Firpo, Kaz Firpo | Ano: 2021 | Duração: 156 minutos | Elenco: Gemma Chan, Richard Madden, Kumail Nanjiani, Lia McHugh, Brian Tyree Henry, Lauren Ridloff, Salma Hayek, Angelina Jolie, Barry Keoghan, Don Lee, Harish Patel, Kit Harington.