Crítica | Espírito Vivente (Vif-Argent) [2019]

Nota do Filme:

“Eu não sou mais do seu mundo, Agathe.”

Juste

Espírito Vivente acompanha a trajetória de Juste (Thimotée Robart), fantasma que ajuda outras pessoas recém falecidas, somente visíveis a ele, a cruzarem ao pós vida. Contudo, em determinado dia é reconhecido por Agathe (Judith Chemla), criando um vínculo que nunca antes sentira.

Stéphane Batut traz, em seu primeiro longa metragem – ela dirige e assina o roteiro –, uma premissa interessante que, certamente, irá atrair alguns interessados. O conceito de um romance que perpassa a própria morte traz consigo um certo fascínio e, ao menos nesse aspecto, funciona de maneira competente. Isto é, o modo como o filme traz à tona determinados conceitos é crível e, mais importante, natural.

Há uma dubiedade no estado de Juste. Por mais que esteja, de fato, morto, pode interagir com o mundo dos vivos, quase como se estivesse entre um reino e outro – ou talvez em um limbo. Contudo, esse status vem acompanhado por regras que, por mais que não sejam ditas de maneira clara à audiência, são facilmente perceptíveis. Isto é, não é porque o protagonista pode interagir com o mundo dos vivos que ele deve fazê-lo, devendo se limitar a ajudar outros falecidos.

Ainda, o filme é beneficiado por duas boas performances de seus atores principais. Thimotée Robart, em seu primeiro longa metragem, traz uma interessante inocência ao papel, enquanto Judith Chemla é responsável pela experiência, por mais que, em tela, os papéis sejam revertidos. Ademais, os belos visuais aumentam a imersão na narrativa.

Infelizmente, porém, Espírito Vivente jamais alcança todo o potencial que possuía como conceito narrativo. Por mais que traga noções e dilemas interessantes, há a impressão de que a história não consegue crescer com base em sua ideia inicial, sobretudo ao notarmos determinadas repetições de padrões. Nesse sentido, não se reclama, aqui, do conceito aberto referente ao universo do longa, mas sim à ausência de concretude.

Isto é, a história levanta importantes questões filosóficas sem, todavia, preocupar-se com a sua solução e/ou interpretação. Por mais que essa abertura possa, de fato, funcionar em obras distintas, aqui passa apenas a sensação de prepotência. Uma moldura sem quadro, algo sem conteúdo.

Sendo assim, por mais que seja visualmente belo, o resultado final passa uma sensação de vazio, jamais cativando o espectador o bastante para que se preocupe com o desenrolar da narrativa. Dessa forma, Espírito Vivente se mostra como uma ideia interessante, mas uma experiência dispensável.

Filme visto durante o 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019