Crítica | A Garota da Pulseira (La Fille au Bracelet) [2019]

Nota do Filme:

“Por que não perguntar ao Nathan se ele é “fácil” também?”

Lise

A Garota com a Pulseira segue a vida de Lise (Melissa Guers), jovem francesa de dezessete anos ré em um julgamento pelo assassinato de sua melhor amiga. A protagonista responde à acusação com antipatia, ao mesmo tempo em que vê a sua vida íntima se tornar pública e lida com a preocupação dos seus pais Bruno (Roschdy Zem) e Céline (Chiara Mastroianni).

Tribunais são fontes de tensão natural. Uma vez que, via de regra, lidam com bens tão íntimos ao próprio conceito de humanidade – possível cerceamento da liberdade de um indivíduo – há muito a se perder, o que, normalmente, atrai a atenção do espectador com maior facilidade.

Todavia, A Garota com a Pulseira opta por um caminho pouco usual, tendo uma abordagem menos dramática e mais realista. Isto é, qualquer pessoa que já atuou na área tem plena ciência da excessiva dramatização que obras desse subgênero sofrem. Não que haja algo de errado com a prática uma vez que, por exemplo, o dia a dia de um hospital pouco tem a ver com um episódio de Grey’s Anatomy. Trata-se apenas da sétima arte fazendo aquilo que deve fazer: ampliar as emoções para aumentar a catarse da experiência.

O filme não se torna menos interessante por essa razão, apenas diminui de maneira considerável o seu público alvo. Ao se despir de qualquer subtrama secundária e momentos dramáticos como manipulação de júri ou grandes discursos, a narrativa foca toda a sua atenção à questão procedural e certamente será mais atrativa àqueles interessados em aspectos mais técnicos sobre o sistema Judiciário francês.

Não é para se dizer, porém, que a história é desprovida de qualquer caráter narrativo. Há relações entre os personagens, sobretudo o modo como cada pai reage à possível prisão da filha. Ao mesmo tempo, a antipatia da protagonista acaba por causar um estranho desconforto na audiência, que não sabe muito bem como categorizá-la quanto ao suposto crime cometido. A cena final, inclusive, levanta uma interessante questão acerca da internalização do status de acusado, seja ele/ela culpado(a) ou não.

Ainda, o longa aproveita a oportunidade para abordar a problemática referente ao tratamento dado às jovens mulheres abertas sexualmente face a seus colegas masculinos. Nesse sentido, se Lise é julgada por suas escolhas sexuais, aqueles que a acompanham seguem livres de qualquer represália, não apenas judicial, mas também moral.

Dessa forma, A Garota com a Pulseira jamais peca de maneira considerável. Esteticamente aprazível e bem atuado, traz questões sociais interessantes, ainda que opte por abordá-las de maneira superficial, para que possa dar maior foco ao julgamento em si. Por mais que não seja o tipo de filme com que os fãs do gênero estão acostumados, o que pode gerar certa crítica, traz uma perspectiva distinta que certamente agradará a quem assisti-lo de mente aberta.

Filme visto durante o 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019