Crítica | Como Treinar o Seu Dragão 3 (How to Train Your Dragon – Hidden World) [2019]

Nota do Filme :

Como Treinar o Seu Dragão 3 acompanha as vidas de Soluço (Jay Baruchel) e Banguela após os eventos do filme anterior. O primeiro, agora Chefe de sua tribo, lidera seus amigos Melequento (Jonah Hill), Perna-de-Peixe (Christopher Mintz-Plasse), Cabeçadura (T.J. Miller), Cabeçaquente (Kristen Wig) e namorada Astrid (America Ferrera) em missões para libertar dragões capturados por caçadores.

Contudo, a descoberta de uma nova Fúria da Noite e a chegada de uma nova ameaça, na pessoa de Grimmel (F. Murray Abraham), fará com que o relacionamento de ambos seja testado. Ao mesmo tempo, devem buscar pelo Mundo Secreto, a lendária utopia de dragões, se quiserem garantir a sua sobrevivência.

Está é uma das franquias mais bem sucedidas da DreamWorks. Os filmes antecedentes arrecadaram, juntos, quase US$ 400.000.000,00, sem considerar os spin-offs. Não apenas isso, mas foram sucessos de crítica, o que resultou em indicações para o Oscar de Melhor Animação dos anos de 2011 e 2015, respectivamente. Dessa forma, considerando ser, este, o fechamento da trilogia, havia muita expectativa quanto à sua qualidade. Felizmente, tem-se, aqui, o melhor dentre os três.

Como Treinar o Seu Dragão 3 estabelece as suas premissas de maneira ligeira. Isto é, ao realizar mais um resgate, o agora Chefe da Tribo rapidamente contextualiza o estado atual de Berk após a morte de seu pai, Stoico (Gerard Butler), e sua ascensão ao posto de comandante. Ademais, as “vítimas” da operação recorrem a Grimmel, conhecido assassino da espécie Fúria da Noite, que representa uma legítima ameaça ao novo estilo de vida da vila.

Ressalta-se, desde já, que rapidamente é estabelecido um paralelo entre a figura do antagonista e Soluço. Dessa forma, por mais que não conte com um desenvolvimento particularmente aprofundado, tem-se ser esta uma melhora em comparação ao longa anterior, cuja única motivação discernível do vilão era a “dominação mundial”.

Concomitantemente, o surgimento da nova Fúria da Noite – ou melhor, Fúria da Luz – permite que o protagonismo da trama se concentre mais em Banguela, separando-o do seu amigo e permitindo que se desenvolva de maneira mais individual. Nesse sentido, a obra gasta uma considerável quantidade de tempo demonstrando o florescer desta nova relação. Tal escolha permite uma oxigenação da trama, impedindo que certos pontos se tornem repetitivos. Pelo contrário, justamente pela audiência estar tão acostumada a vê-los juntos, a cisão ajuda a florescer maior individualidade em ambos.

Do ponto de vista visual, é, sem dúvidas, o mais belo da trilogia. As cenas que retratam o desenvolvimento do relacionamento entre os dragões, aliadas ao descobrimento do Mundo Secreto, representado com o devido misticismo extravagante, atestam a qualidade do longa neste segmento.

Sua maior força, contudo, reside no roteiro, que consegue, de forma orgânica, aproveitar o trabalho feito anteriormente, de modo a expandir o seu próprio universo. Todas as revelações feitas no decorrer da obra são deduções lógicas que decorrem dos eventos dos seus antecessores. Nesse sentido, importante destacar que, por mais que não haja o devido desenvolvimento dos personagens secundários, sua função é, justamente, prover auxílio quando necessário, motivo pelo qual não se vê tal fator como algo intrinsecamente negativo. Pelo contrário, o alívio cômico do script funciona de maneira excelente, o que demonstra um excelente controle narrativo por parte de Dean DeBlois, diretor e roteirista.

Por fim, a conclusão para os arcos criados conta com importantes mensagens acerca de amizade e liberdade e irá, definitivamente, emocionar os fãs da franquia, uma vez que o tom agridoce atinge o equilíbrio perfeito. Aqui, deixa-se de lado o espetáculo, para focar em um clímax intimista, totalmente focado no desenvolvimento dos relacionamentos entre os seus protagonistas. Uma decisão sábia, que vai na contramão da tendência da indústria.

Sendo assim, Como Treinar o Seu Dragão 3 é um excelente filme, e marca um ótimo começo para o ano de 2019. Por mais triste que seja a despedida, ela é inevitável, motivo pelo qual deve ser feita de maneira orgânica e inteligente. Dean DeBlois não se acanha diante do desafio e, disposto a fazer escolhas difíceis, permite que a história se destaque naturalmente. Um conto sobre amizade e aceitação, que, por mais que evoluísse, conseguiu manter as suas raízes durante toda a franquia.