Crítica | Amores Brutos (Amores Perros) [2000]

Nota do Filme:

No primeiro filme da Trilogia da Morte de Iñárritu, somos apresentados a três narrativas simultâneas e distintas: a primeira, de Octavio (Gael García Bernal), um jovem que é tão apaixonado pela cunhada, Susana (Vanessa Bauche), que promete que a livrará das agressões do irmão e cuidará dela e do filho. Para começar a ganhar dinheiro, Octavio entra no esquema de rinhas de cães com seu cachorro. Os dois passam de desconhecidos a imbatíveis muito rápido, o que incomoda os outros competidores. Em uma das brigas, o oponente, já cansado de perder seu dinheiro para Octavio, atira no cão e “vence” a disputa. Horrorizado com o ocorrido, ele tenta a qualquer custo salvar seu fiel amigo e dirige desesperadamente atrás de ajuda para o cão, mas acaba se envolvendo em um grave acidente de carro no meio do caminho.

Em paralelo, conhecemos Daniel (Álvaro Guerrero), um homem de meia-idade que larga sua esposa e filhas por Valeria (Goya Toledo), uma modelo rica e famosa. Valeria tem como companhia seu cachorrinho, Richie, que a acompanha para onde quer que vá. Em uma tarde em seu novo apartamento com seu amado, Valeria sai de carro para uma rápida visita ao mercado para buscar algumas coisas que estão faltando em casa, quando é brutalmente atingida por um carro desgovernado. O acidente muda completamente a vida da moça, que perde seu status no auge de sua carreira.

Do outro lado da cidade, conhecemos El Chivo (Emilio Echevarría), um homem que já teve uma esposa e uma filha, mas largou tudo para ser guerrilheiro. Após 20 anos preso e agora vivendo como mendigo, acompanhado de vários cães que dividem tudo com ele, El Chivo decide que é hora de reencontrar a filha, Maru, que nem sabe da existência do pai, já que a história que contaram a ela é a de que ele faleceu quando ela ainda era um bebê. Vivendo de bicos e furtos, o homem tem uma nova missão: exterminar o sócio de um homem que acredita estar sendo enganado. Em um dia de perseguição ao sócio, El Chivo presencia um terrível acidente de carro, e é neste momento em que as três histórias se interligam.

Este filme traz questões conflitantes, como, por exemplo, a brutalidade no trato dos animais, ao mesmo tempo que são muito amados por seus donos; a diferença social entre os personagens, que, mesmo vivendo em mundos diferentes, tiveram suas histórias cruzadas; e, é claro, a brutalidade no trato entre os personagens, onde também há muito amor envolvido, tudo ao mesmo tempo. Este não é um filme indicado para pessoas sensíveis, pois pode despertar gatilhos em quem tem sensibilidade a agressão a animais. É evidente que nenhum animal foi, de fato, machucado durante as filmagens, mas as cenas são muito explícitas e realísticas, o que pode ofender algumas pessoas, então vale o alerta.

Como já sabemos, este é o primeiro filme de três, todos dirigidos por Alejandro González Iñárritu, em que o diretor traz em seus filmes um assunto que une todos nós: a morte. Em sua estreia dirigindo longas, Iñárritu conta histórias de pessoas que fizeram más escolhas durante a vida e que não escaparão de suas consequências. Com ambientes sujos e incômodos, acompanhamos a jornada difícil dos personagens, que fazem escolhas autodestrutivas e são dominados pelo pessimismo, pela dor e pelo sofrimento.

Com clara influência de clássicos como Pulp Fiction (2004), o diretor utiliza o artifício do hiperlink na construção de sua narrativa, onde histórias e personagens separados se conectam por um mesmo motivo (aqui temos os cachorros e o acidente de carro), e acabam influenciando um na história do outro. O recurso foi utilizado também nas sequências da trilogia, em 21 Gramas (2003) e Babel (2006). Traremos a análise do segundo longa na próxima semana, e já contamos com a crítica do último deles aqui no site, que pode ser conferida neste link.

Amores Brutos traz reflexões sobre diferenças entre classes sociais, as possibilidades na vida de cada um, os erros cometidos e as consequências que dali virão; mas, o filme não traz só tragédias, ele também traz o outro lado: em que pese alguém tenha errado muito ao longo da vida e sofrido todas as consequências de seus erros, chega uma hora em que o sofrimento tem que acabar – e ele realmente acaba, seja pela morte ou pela redenção ainda em vida.