Crítica | Vidas Duplas (Doubles Vies) [2018]

Nota do Filme:

Vidas Duplas acompanha a vida de amigos Léonard (Vincent Macaigne) – casado com Valérie (Nora Hamzawi) – e Alain (Guillaume Canet) – casado com Selena (Juliette Binoche) – respectivamente escritor e seu editor,  cada qual em sua crise de meia idade. Os amigos se distanciam após uma divergência quanto ao mais novo livro de Léonard. Ao mesmo tempo, devem lidar com a mudança da indústria literária, cada vez mais permeada pelos avanços tecnológicos da era digital.

Olivier Assayas é um dos diretores franceses de maior renome da atualidade. Em 2016, foi responsável pelo filme Personal Shopper, estrelado pela atriz Kristen Stewart e bastante elogiado pela crítica especializada. Dessa forma, cada novo trabalho por ele lançado ganha atenção imediata, acompanhada de uma expectativa natural. Contudo, infelizmente, aqui, entrega uma produção um tanto quanto decepcionante. Isto porque, a despeito de um roteiro, a princípio, interessante, o longa jamais sai do marasmo, arrastando-se no decorrer de seus 108 minutos.

Destaca-se, entretanto, que não é uma narrativa desprovida de boas qualidades. O elenco, de um modo geral, entrega boas performances. Juliette Binoche, como lhe é rotineiro, apresenta uma interpretação acima da média. Ainda, conta com diálogos instigantes, que levantam dúvidas pertinentes em uma era cada vez mais digitalizada. Nesse sentido, tem-se que funciona com base na interação entre seus personagens, com extensas conversas intelectuais.

Todavia, os problemas surgem justamente porque não há desenvolvimento das questões trazidas. Não se espera, é claro, que o diretor tenha soluções para todas as problemáticas abordadas, mas a abstração do roteiro é tamanha que, após determinado decurso de tempo, qualquer interação na história se torna pretensiosa, falha essa insanável, uma vez que as relações interpessoais são o sustento da obra.

Nessa seara, é um conto de pouca imersão por parte do espectador. Isto porque são situações específicas que dificilmente irão ressoar com um público muito diverso. Assim, por vezes a audiência não irá se conectar ao que está em tela, prejudicando ainda mais a experiência cinematográfica.

Sendo assim, por mais que Vidas Duplas conte com premissas interessantes, a entrega do material impede que atinja o seu real potencial. Concomitantemente, as boas atuações não conseguem dar profundidade a um texto erudito, porém, vazio, tornando o longa uma obra mediana, apenas, que dificilmente será lembrado.


Filme visto durante o 20º Festival do Rio, em novembro de 2018