Nota do filme:
Imagine: O Massacre da Serra Elétrica se casou com Midsommar e eles tiveram um filho. Agora imagine que este filho se casou com a filha de A Vila e O Segredo Da Cabana e eles tiveram um bebê, que cresceu e fez amizade com Pânico e O Albergue. De certo modo, é nisto que consiste Um Clássico Filme de Terror, e isto nos permite concluir que, gostemos ou não, ele leva seu título muito a sério.
Em uma viagem de carona compartilhada, Elisa (Matilda Anna Ingrid Lutz), Fabrizio (Francesco Russo), Ricardo (Peppino Mazzotta), Mark (Will Merrick) e Sofia (Yullia Sobol) viajam pelo sul da Itália, quando, após um acidente, o grupo se vê diante de uma misteriosa casa no meio de uma densa floresta, cenário no qual suas vidas passam a ser caçadas em um macabro ritual.
A referência, no primeiro parágrafo, a O Massacre da Serra Elétrica não é gratuita, uma vez que o longa não se priva, sobretudo em sua metade inicial, de empregar uma estética e uma estrutura semelhante ao clássico de Tobe Hopper, sendo bastante franco neste aspecto.
Mais gerais são as convenções do gênero que são utilizadas aqui e ali, como a construção do grupo de protagonistas (temos a final girl, o antipático, o casal de namorados e o personagem cuja função principal é esclarecer os mistérios); os celulares que perdem o sinal; o carro que não pega de jeito nenhum e a tomada aérea que mostra a floresta “engolindo” o veículo, ao mesmo tempo sugerindo o perigo que está por vir e ressaltando o isolamento ao qual aquelas pessoas estão se dirigindo.
Semelhante a esta tomada, temos outras cenas que destacam a pequenez dos personagens diante dos cenários, como a que mostra Elisa diante da casa ou a que traz Ricardo e Fabrizio andando pela mata.
Outra imagem significativa se dá ainda no início, em que a luz é projetada de modo a dividir o rosto de Elisa (um lado mais claro e outro mais escuro), justo em um momento no qual ficamos sabendo de um dilema vivido pela moça.
Outro instante no qual a luz é aproveitada para indicar algo se dá logo após o acidente – isto é, justamente quando as coisas começam a dar errado –, em que a tela é tomada pelo vermelho, marcando o início do pesadelo que será vivido.
Também é curiosa a parte em que determinado ritual é realizado, quando vemos um personagem se colocar diante da cabeça de um cervo pendurada na parede, intensificando o caráter animalesco (e, claro, diabólico) que aquela figura está tomando.
Porém, se vinha sendo uma narrativa intrigante, o projeto acaba abandonando considerável camada de controle durante o terceiro ato, perdendo a mão em uma metalinguagem que atira para todos os lados, insistindo em comentários sobre filmes, “consumo” de filmes e redes sociais. E isto acaba revelando muito mais sobre a insegurança de seus realizadores – ao adotarem uma postura extremamente defensiva – do que um desejo de efetivamente contribuírem com os debates que supostamente querem estimular.
Se por um lado, Um Clássico Filme de Terror possui uma boa fotografia e (o que é mais importante) sabe utilizá-la em benefício da história que está contando, por outro, seu roteiro (escrito a dez mãos, o que pode explicar esse problema) derrapa quando tinha as coisas em ordem, ao querer falar demais e oferecer pouco.
Historiador que acredita que a vida fica mais fácil quando vamos ao cinema.
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