Crítica | Trem-Bala (Bullet Train) [2022]

Nota do filme:

Karma is a bitch” Ladybug

Entre as décadas de 90 e 2000 o cinema foi tomado com vários exemplares de ação com violência e sangue, girando quase sempre em torno de vingança ou ambição. Nesses filmes, em geral, os mocinhos e os “bad guys” se confundem e o espectador acaba torcendo para alguém que se identifica sair vitorioso com sua maleta de dólares ou sua vendetta consumada. David Leitch consegue com Trem-Bala homenagear o gênero e parodiar o tipo trazendo à tona um longa divertido com ação, violência e sangue, movido a vingança e ganância, mas com muita comédia e muito bom humor.

Baseado no livro homônimo de Kôtarô Isaka, a história segue o protagonista Joaninha, vivido por Brad Pitt, um mercenário supersticioso determinado a seguir a carreira de modo pacífico, que busca não assumir muitos riscos, mas aceita uma aparentemente fácil missão: furtar uma maleta com dinheiro dentro de um trem-bala que cruza cidades do Japão. Ocorre que a tal mala está com dois irmãos, os assassinos Tangerina (Aaron Taylor-Johnson) e Limão (Brian Tyree Henry), contratados para levá-la junto com o filho (Logan Lerman) de um grande mafioso, Morte Branca (Michael Shannon), até ele, uma figura extremamente cruel e temida por todos.

Desse modo, o enredo gira em volta de matadores a bordo de um trem-bala em alta velocidade que aos poucos descobrem que suas missões têm algo em comum: seus objetivos são conflitantes porém conectados. E, com isso eles vão se encontrando e revelando ao público as intenções dentro do caso. Os personagens tentam manter o controle de seus propósitos, mas tudo vai dando errado e a jornada se complicando cada vez mais dentro do caótico trem japonês. Os adversários vêm de todas as partes do globo, cada um acompanhado de uma história graciosa, contada de maneira criativa e efusiva, por meio de divertidos flashbacks.

Quentin Tarantino possui várias obras do gênero, como Cães de Aluguel (1992), Pulp Fiction (1994), Grande Hotel (1995), Kill Bill, vols. 1 e 2 (2003 e 2004) e Guy Ritchie segue o mesmo caminho com Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998), Snatch – Porcos e Diamantes (2000) e Revólver (2005). São tramas regadas por sangue em que a história geralmente traz mais de um núcleo que aos poucos se entrelaça e com pequenas confusões vai ganhando uma complexidade difícil de reparar depois, contada de maneira bastante peculiar.

Diretor de Deadpool 2, em Trem-Bala Leitch também abusa da ação sem perder o bom humor e o destaque vai para a construção das personagens. Cada uma tem seu tempo de brilhar em tela, mas o elenco é tão recheado de estrelas, que alguns atores acabam sendo desperdiçados. Brad Pitt está bem à vontade no papel, como o assassino que tenta trabalhar pacificamente. Depois de ganhar relevância em A Barraca do Beijo 1, 2 e 3 (Netflix) e A Princesa (Star+), Joey King (Príncipe) se supera como uma assassina dissimulada e persuasiva no longa. Os irmãos Tangerina e Limão roubam a cena e mereciam um filme só para eles.

Além dos nomes citados, o elenco conta com Michael Shannon (Morte Branca), Sandra Bullock (Maria), Hiroyuki Sanada (o Velho), Karen Fukuhara (comissária de bordo), Bad Bunny (Lobo), entre outros. As interações entre eles é o melhor da produção. A trama se constrói à medida que apresenta os personagens, suas motivações e a conexão de uns com os outros, sendo que o filme é quase todo passado dentro de um trem, mas não entedia o espectador, ao contrário, é caótico e prende a atenção.

Mesmo possuindo duas horas de duração e se passando praticamente totalmente dentro do veículo, a narrativa flui, as cenas de luta são bem coreografadas para empolgar o espectador, a comédia, quase sempre, é na medida certa e as canções do longa contribuem para tornar a experiência ainda mais divertida. O triunfo da produção é não se levar a sério, a obra zomba dos clichês de filmes de ação, não perde a oportunidade de encaixar um drama típico do gênero para ressaltar o absurdo de algumas premissas que por muito tempo deram certo, mas por vezes configuram sinal de desleixo e piada.

O público facilmente se encantará pelos personagens, provavelmente odiará alguns e se apaixonará por outros, certo é que não passarão incólumes à apreciação do espectador. Todos construíram uma química fácil de comprar, que enseja o desejo de vê-los juntos de novo. Joaninha é o protagonista, mas a dupla Limão e Tangerina são personas ainda mais difíceis de esquecer. Pode se dizer que o final apela para o clichê que até então parodiava, contudo não rompe expectativas e até se justifica, dado o contexto da película.

Apostando em ideias que deram certo antes e em piadas dentro do contexto do gênero, não se pode dizer que a obra é original, mas não deixa de ser inteligente e cativante, sabendo usar bem cada clichê do tipo para tornar as cenas engraçadas. Embora não haja o apelo de uma sequência e nada indique que o longa ganhará uma continuação, seria um deleite acompanhar novamente o trem-bala no Japão com tão cativantes personagens. No conforto e segurança do cinema, o espectador facilmente entraria nessa jornada e embarcaria no trem japonês outra vez.

Trem-Bala estreia em 04 de agosto de 2022 nos cinemas.

Direção: David Leitch | Roteiro: Zak Olkewicz | Ano: 2022 | Duração: 126 minutos | Elenco: Brad Pitt, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada, Sandra Bullock, Benito A Martínez Ocasio, Logan Lerman, Zazie Beetz, Masi Oka, Karen Fukuhara, Kevin Akiyoshi Ching.