Crítica | Sobrenatural (Insidious) [2010]

Nota do filme:

Antes de ser considerado um dos maiores nomes contemporâneos do gênero do terror, James Wan era pouco conhecido do público em geral. Depois de dirigir o curta e o longa que dariam origem ao vasto universo dos Jogos Mortais (Saw) nos anos de 2003 e 2004, respectivamente, o diretor foi o responsável por iniciar mais duas franquias de muito sucesso. Em 2010, esteve à frente de Sobrenatural (Insidious), uma obra de baixo orçamento responsável por dar origem à uma série de quatro filmes – apenas os dois primeiros foram dirigidos por Wan. Em 2013, dirigiu Invocação do Mal (The Conjuring), que ganhou uma sequência seis anos depois e mais três spin-offs que comporiam o mesmo rico universo. O destaque do australiano em Hollywood foi tamanho que, poucos anos após aparecer para o grande público, foi o escolhido para comandar dois importantes blockbusters: Velozes e Furiosos 7 (Furious 7) [2015] e Aquaman [2018].

Renai (Rose Byrne) e Josh (Patrick Wilson)

Após se mudar para uma nova casa, Josh (Patrick Wilson) e Renai (Rose Byrne) começam a desconfiar que há algo de errado acontecendo. Durante o dia, enquanto seu marido passa horas trabalhando como professor em uma escola local, a mulher fica encarregada de cuidar da mudança, de seus três filhos e ainda de compor novas músicas ao piano para o seu novo trabalho. Completamente atarefada, Renai começa a ouvir estranhos barulhos e a presenciar acontecimentos inexplicáveis durantes as suas tardes e noites na residência com as crianças. Tudo piora ainda mais quando seu filho mais velho, Dalton (Ty Simpkins), que adora explorar a casa munido com sua capa de super herói e uma lanterna, decide entrar no porão em busca de aventuras. Após sofrer um estranho acidente no local, a vida do garoto e de toda a sua família mudará para sempre.

A casa é um dos personagens mais importantes da obra

Depois de mostrar ao mundo do que era capaz em Jogos Mortais (Saw) [2004], James Wan continuou o seu caminho nos filmes de terror. Dessa vez, porém, decidiu explorar outro subgênero. Distante do gore e da violência quase pornográfica presentes em sua primeira obra de sucesso, Insidious – como a sua tradução em português obviamente sugere –, se envereda para os caminhos do sobrenatural e das assombrações, temas tão batidos no cinema americano do gênero. Entretanto, o seu jeito original de filmar e criar histórias são pontos muito positivos que ajudam a distanciar seus longas do ponto comum.

Wan sabe utilizar a trilha sonoro como poucos. Munido de músicas extremamente desconfortáveis, que formam quase um desordem sinfônica cada vez mais estridente, o diretor cumpre a sua função de incomodar com suas sequências. Por mais que isso não seja nenhuma novidade na indústria, aqui (como em boa parte de seus trabalhos), isso faz toda a diferença. Isso sem contar o fato de que, nos momentos em que acha necessário, a transição entre a trilha diegética para a extra-diegética (flui daquilo que o personagem está de fato escutando, para aquilo que somente os espectadores ouvem) são feitos de forma muito eficiente e que de fato cabem no enredo.

Outro recurso muito bem utilizado é o da fotografia. Com muitos planos de câmera laterais, o diretor apresenta aos poucos o ambiente no qual se passa a história. Dessa forma, ele te faz olhar os detalhes com calma, além de quase obrigar o espectador a prestar atenção em tudo que possa sugerir uma certa importância para o desenvolvimento da trama. Tal utilização do recurso também faz com que os cômodos pareçam maiores do que de fato são. Após o ponto de mudança do enredo, a imagem passa a adotar cores frias e acinzentadas, o que transmite, didaticamente, quais são as emoções e aflições dos personagens. Por fim, a união e a harmonia dos dois recursos citados, resultam em pelo menos dois jump scares bastante eficientes – James Wan consegue assustar utilizando apenas os atores, uma boa maquiagem e inteligentes movimentos de câmera.

Os planos de câmera do diretor ajudam a criar a tensão

O roteiro, mesmo que com uma certa qualidade, não entrega tanto quanto os fatores técnicos. A história, conforme já citado, é baseada em clichês do gênero, tanto em seu formato, quanto em seus desdobramentos. Como de costume, a casa acaba assumindo um papel importante na história, virando quase que um personagem, coisa que já estamos cansados de ver. Outra detalhe que incomoda, é a falta de comunicação entre os protagonistas após presenciar acontecimentos completamente bizarros – o que os obriga a tomar decisões altamente questionáveis. Por mais que o desenvolvimento de boa parte deles seja bem feito, a escolha de adicionar um alívio cômico à história com a equipe de investigação, não parece ornar com os demais acontecimentos da obra. Por fim, o clímax do terceiro ato acaba sendo um pouco fraco por ser expositivo demais, visto que o maior trunfo do longa é a ideia de deixar as coisas na sugestão e imaginação daqueles que a assistem.

Primeiro filme de mais uma franquia de sucesso dirigida por James Wan, Insidious consegue assustar, cativar e apresentar uma mitologia própria que seria explorada em outras três sequências. Além disso, podemos considerar que a obra foi a inspiração e o “teste” do diretor para criar Invocação do Mal (The Conjuring) [2013], sua melhor história e criação de universos até aqui.