Crítica | Sequestro Relâmpago (2018)

Nota do Filme:

Sequestro Relâmpago conta a história de Isabel (Marina Ruy Barbosa), jovem de 21 anos que, ao sair de um bar, é abordada por Matheus (Sidney Santiago) e Japonês (Daniel Rocha), sendo feita refém em um sequestro pelo dinheiro que tem no banco. Todavia, o atraso dos bandidos faz com que não consigam chegar ao caixa eletrônico antes das 22h, motivo pelo decidem mantê-la refém até a manhã do dia seguinte.

O filme é baseado em fatos reais, mais especificamente na experiência de Ana Beatriz Elorza, moradora da cidade de São Paulo. Contudo, é claro, poderia tomar como fonte incontáveis casos semelhantes que acontecem não só na cidade, mas pelo país inteiro. Dessa forma, uma vez que, infelizmente, não se trata de uma ocorrência rara, tem-se que é um roteiro que irá ressoar com grande parte da população.

Sequestro Relâmpago, devido à sua própria premissa, se passa, na maior parte do tempo, no carro da protagonista. A audiência acompanha a sua jornada, que, dentre os seus muitos estágios, inclui acalmar os seus algozes e, por vezes, efetivamente tentar escapar da situação na qual se encontra. Destaca-se, que o longa consegue criar uma boa atmosfera claustrofóbica nas filmagens que envolvem o veículo. Entretanto, essa sensação jamais evolui à tensão que se espera de uma narrativa do gênero. Esse fator é problemático, uma vez que, considerando a temática da história, é necessária uma constante carga de aflição, de modo a imergir o espectador no conto, bem com tornar mais relacionável ao martírio da personagem.

De qualquer forma, uma vez que a obra envolve, inevitavelmente, momentos fora automóvel, visto que os criminosos devem esperar até a manhã do dia seguinte para poder conseguir o dinheiro de sua vítima, há ocasiões na qual os personagens interagem fora do carro, em locações diversas. Nestas situações, há uma forte aura de inquietude, urgência e imprevisibilidade, aumentando a qualidade de uma maneira geral.

Ademais, a diretora Tata Amaral aproveita a oportunidade para tecer comentários acerca do comportamento masculino desdenhoso para com um pedido de socorro feminino. Isto é, a despeito das súplicas da protagonista, basta que algum de seus acompanhantes afirme que está embriagada e/ou medicada para que seus apelos são sumariamente ignorados.

As atuações são sólidas, mas não chegam a ser um ponto de destaque. O trio principal, composto por Marina Ruy Barbosa, Sidney Santiago e Daniel Rocha, tem boa química, mas não há uma performance em particular que seja excepcional. Nessa seara, ressalta-se que há uma certa incongruência no roteiro, especificamente acerca do modo como os diálogos foram escritos, que foi prejudicial ao filme, uma vez que distancia as relações dos personagens da audiência. Isto é, até o final do primeiro terço da história, as conversas não fluem de maneira natural, o que dificulta a imersão do espectador.

Sequestro Relâmpago aborda uma temática que é, infelizmente, cotidiana ao cidadão médio brasileiro. A despeito de seus defeitos – dentre eles um final pouco inspirado –, o segundo ato do longa, aliado às interpretações competentes do elenco, aumentam a qualidade da experiência como um todo e ajudam a elevar a obra a um patamar um pouco maior.

Filme visto durante o 20º Festival do Rio, em novembro de 2018