Crítica | Eis os Delírios do Mundo Conectado (Lo and Behold: Reveries of the Connected World) [2016]

O local de nascimento da internet onde Werner Herzog  peregrina na primeira cena de seu preciso documentário é uma sala chata, pintada de verde-limão, fora de um corredor igualmente resumido em algum lugar nas profundezas da UCLA (Universidade Californiana em Los Angeles). De pé, no canto, há uma grande caixa de metal praticamente indestrutível do tamanho de um armário. É o primeiro rabisco na história para a chamada ARPANET (Rede de Agências de Projetos de Pesquisa Avançada), como era íntima dos projetistas que estabeleceram a tecnologia inicial responsável por dar corda ao mundo online.

O cineasta alemão Werner Herzog, dominante de uma ficção extremamente colateral em suas obras, é o licenciado de hoje para fazer documentários de introdução ao próprio sentido de penetrar, ou abrir a porta para que isso seja possível. Eis os Delírios do Mundo Conectado não é o seu melhor. Uma pesquisa de dez capítulos sobre a era do computador e nosso planeta unido é um guia extremamente simplório para os usuários mais antigos e a maioria dos que já pesquisaram superficialmente sobre o tema. A miniaturização de tecnologia por idade e crescimento é um acidente feliz na organização das consequências que ela traz, mas não ganha sozinha o documentário de Herzog. O milagre da internet e a própria guerra virtual são alongados um pouco em comparação aos outros tópicos, mas não chegam perto de serem temas-chave. De fato, nenhum chega. A mão do diretor escorrega sem responsabilidade por todas as salas de sua origem.

Leonard Kleinrock ao lado do primeiro protótipo usado no roteamento da internet

Um dos momentos mais preciosos enquanto Herzog considera avanços no campo da robótica, é uma entrevista com um pesquisador da CMU (Universidade Carnegie Mellon), que colocou em um espaço controlado uma pequena equipe de robôs do tamanho de uma bola de futebol profissional. Eles são os campeões da liga interna, raramente sofrendo gols e coordenando manobras e respostas com grande proximidade à perfeição para marcar pontos e bloquear os passes dos adversários. O característico Robô 8, identificável pelas suas marcações circulares verdes e azuis, construído para ser consideravelmente melhor através de uma combinação de programação inteligente e o capricho dos seus proprietários, tornou-se um favorito, um mascote. Ao Herzog perguntar a Joydeep Biswas, porta-voz do projeto naquela entrevista, se a equipe amava aquele robô, calorosamente recebia um “Sim, nós amamos o Robô 8″, sem hesitação.

O próprio cineasta é um leigo reconhecido, não carrega um telefone celular e restringe seu uso da internet predominantemente para o e-mail, juntamente com a verificação ocasional do Google Maps. O diretor foi contratado para esse projeto pela firma de segurança cibernética Netscout, mas que deu a Herzog rédea solta para penetrar em quaisquer aspectos de conectividade que ele considerasse mais interessantes, problemáticos ou elucidativos. Entre as pessoas que ele conhece estão aquelas cujas vidas foram prejudicadas pelo vício em internet, assim como alguns dos vanguardistas e inovadores que moldam nosso futuro até hoje.

Theodor Nelson em entrevista para o documentário em sua residência.

Se ele está interrogando pioneiros da rede – homens de sua idade que ainda se maravilharam de ter estado presentes na criação – ou escutando o testemunho de “eremitas dos tempos modernos” vivendo distantes da grade e livres da radiação eletromagnética, Herzog se comunica através de fascínio e espanto em igual medida. A internet é uma pedreira indescritível. É uma maravilha e uma ameaça, um fato banal da vida e uma força para mudanças incalculáveis. No entanto, também é tema deste filme cativante e desigual. Serve, nada mais nada menos, como uma desculpa para o seu diretor adicionar à sua coleção de rostos e vozes memoráveis.