Crítica | Polar (2019)

Nota do Filme:

Polar acompanha a saga de Duncan Vizla (Mads Mikkelsen), assassino profissional que, à beira da aposentadoria, precisa realizar um último trabalho no leste europeu. O que ele não sabe é que tudo não passa de uma armadilha arquitetada por seu chefe, Blut (Matt Lucas), na intenção eliminá-lo, evitando assim precisar pagar ao hitman milhões de dólares em uma espécie de pensão. Após o plano fracassar, o patrão envia uma equipe de elite para liquidar o sujeito, que se vê no centro de uma caçada humana ao mesmo tempo em que conhece Camille (Vanessa Hudgens), uma jovem com um passado misterioso.

Porém, se no parágrafo anterior a expressão “equipe de elite” foi empregada para se referir ao grupo que parte atrás do protagonista, seu uso foi um eufemismo dos mais generosos, uma vez que seus membros são absurdamente incompetentes na realização de suas tarefas mais básicas. Não obstante, tais personagens são pessimamente compostos, tanto pelo roteiro escrito por Jayson Rothwell, baseado na graphic novel criada por Víctor Santos, quanto por seus respectivos intérpretes, fazendo com que o espectador anseie pelo momento em que deixarão de aparecer. Igualmente irritante é a direção de Jonas Åkerlund – perde-se a conta de quantas vezes ele insiste em filmar em close as partes traseiras de Ruby O. Fee –, o que, aliada a uma montagem caótica, torna a experiência vertiginosa.

Em função da fragilidade da história, que confunde excentricidade com complexidade, o figurino entra em cena para tentar enriquecer ou, pelo menos, compensar a narrativa, mas não atinge seu objetivo. Tomemos como exemplo Vivian (Katheryn Winnick): toda vez que surge, esta possui uma aparência (incluindo o penteado) diferente, não repetindo o mesmo visual ao longo da trama. Essa troca constante poderia dizer algo sobre sua personalidade ou sobre a natureza de seu ofício, mas é um mero recurso gráfico que nada acrescenta à obra, mesmo porque a personagem é pouco explorada.

O que nos leva às performances de Mikkelsen e Lucas. O primeiro, como de costume, realiza um trabalho competente, entregando um indivíduo cansado e que visivelmente não sente prazer no que realiza. Com a barba por fazer e já com alguns pneuzinhos, ele só deseja se retirar de cena, se isolar e aproveitar o tempo que lhe resta (o que, somado à cidade onde vive, justifica o título da produção). Já o segundo parece um vilão saído de uma HQ de qualidade duvidosa. Com maneirismos patéticos e uma tendência extrema ao over, o trabalho do inglês já é forte candidato a pior do ano.

Como cereja do bolo há clichês do tipo a tela dividida durante uma conversa ao telefone e excessivos letreiros para indicar diferentes localidades. O filme, mais longo do que o necessário, ainda conta com uma revelação previsível que até poderia fornecer alguma carga dramática, caso não acontecesse praticamente na última cena. De consolo, fica a bela fotografia da cidade que Vizla habita – e a tomada final, com um pouco de verde surgindo entre a neve, é inspirada devido ao que acontece no desfecho.

Parecendo ter se inspirado na franquia John Wick e em O Profissional, o longa claramente não absorveu os melhores elementos dessas obras, e certamente não deixará o mesmo legado. Azar para a dupla Mikkelsen/Hudgens, que, apresentando uma relativa boa dinâmica, passa deslocada a maior parte do tempo, como se pertencesse a outro universo. Fica a torcida para que recebam um projeto mais digno da próxima vez.