Crítica | Pelican Blood (Pelikanblut) [2019]

Nota do Filme:

“Eu vou te mostrar uma coisa, mas você não pode contar à mamãe.”

Nicolina

Pelican Blood acompanha a vida de Wiebke (Nina Hoss), treinadora de cavalos policiais e mãe de Nicolina (Adelia-Constance Ocleppo). Ao adotar Raya (Katerina Lipovska), vê sua vida virar de cabeça para baixo em decorrência dos hábitos da jovem de cinco anos, que se mostram extremamente preocupantes. Assim, deverá decidir até que ponto deve ir para ajudar a nova filha.

A utilização da chegada de uma criança como fonte de terror não é tática nova ao gênero de terror. Muito pelo contrário, a parentalidade é algo muito utilizado na sétima arte, com exemplos clássicos como O Bebê de Rosemary, ainda em 1969, ou algo mais recente, como Precisamos Falar Sobre Kevin, lançado em 2011. O longa, então, utiliza-se de arquétipos conhecidos, cunhando uma obra reconhecível ao público médio, como o local primordial de ação, uma fazenda remota.

Pelican Blood, porém, jamais alcança o seu potencial, sendo o resultado final algo apenas aceitável. Há a promessa de um bom filme, especialmente ao levarmos em consideração a primeira metade, momento no qual todas as questões são levantadas à audiência. Todavia, ao tentar equilibrar diversos preceitos do gênero, acaba minando a própria qualidade, prejudicando a experiência de maneira irreparável, o que resulta em um inegável sentimento de decepção.

Ao mesmo tempo, o ritmo lento no qual a história é contada se mostra uma escolha errada, uma vez que acrescenta pelo menos trinta minutos à narrativa que são dispensáveis, cansando o espectador sem, contudo, oferecer em contraproposta uma catarse razoável. Nesse sentido, o final peca pela falta de consequências palpáveis, a dúvida acerca dos distúrbios de Raya serem médicos ou sobrenaturais é respondida de maneira apressada e pouco trabalhada, a despeito do tempo de duração da película.

Não é para se dizer que não há qualidade na obra, sobretudo ao abordarmos a atuação. Nina Hoss faz um trabalho realmente interessante, a despeito dos problemas do roteiro. Ademais, Adelia-Constance Ocleppo e, especialmente, Katerina Lipovska, impressionam, sobretudo ao considerarmos a pouca idade de ambas.

Ainda, a história aborda de maneira interessante o amor materno, levantando questões acerca de auto sacrifício e se o referido amor deve ter algum tipo de limite. Isto porque a profissão de Wiebke encontra grandes obstáculos na sua maternidade. Ocorre, também, o inevitável paralelo entre sua nova filha e um dos cavalos do estábulo policial, extremamente agressivo e não disciplinado, levantando dúvidas acerca de sua domesticação, bem como possível sacrifício.

Sendo assim, há um potencial em Pelican Blood que, infelizmente, jamais é alcançado. A despeito de ótimas performances por parte dos envolvidos, temáticas interessantes e uma primeira metade sólida, no final peca pelo excesso ao tentar balancear diversos preceitos do terror. Ademais, o ritmo lento acaba por aumentar o tempo de duração da narrativa de maneira desnecessária, fatigando o espectador. Ao final, a sensação que fica é que, com um pouco mais de cuidado, este poderia ser um ótimo filme.

Filme visto durante o 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019