Crítica | Mundo em Caos (Chaos Walking) [2021]

Nota do Filme:

Baseado no livro O Motivo (The Knife of Never Letting Go), primeira parte da trilogia escrita por Patrick Ness, Mundo em Caos se passa em 2257, em um contexto no qual a humanidade passou a colonizar um planeta chamado de Novo Mundo. Um estranho fenômeno (e que afeta apenas os homens) se passa no local, fazendo com que os pensamentos possam ser ouvidos por todos, o que, naturalmente, proporciona os mais diversos tipos de consequências, das constrangedoras às perigosas. Chamados de “Ruído”, os pensamentos são representados visualmente através de uma espécie de névoa, mas também podem adquirir formas específicas projetadas pela pessoa que os emite, dependendo de seu grau de habilidade e controle. Um dos habitantes da colônia que mais possui dificuldades em lidar com essa situação é o jovem Todd (Tom Holland), morador de uma aldeia na qual todas as mulheres foram dizimadas quando este ainda era bebê, e que vê seu mundo ser abalado com a inesperada chegada de Viola (Daisy Ridley), uma integrante da segunda geração de colonizadores. Juntos, eles começam a perceber que nem tudo ali é o que parece e, conforme segredos vão sendo revelados, suas vidas passam a correr risco.

Não li o livro de Ness, portanto não sei como o conceito do Ruído é tratado em sua obra, mas no filme (cujo roteiro foi escrito por ele e Christopher Ford) é possível dizer que o elemento é pouco desenvolvido e fica muito aquém de seu potencial de exploração. Quando os pensamentos de determinado personagem são expressos através de uma forma que lembra as chamas de uma fogueira, condizente com sua personalidade, fica a sugestão de que serão utilizadas determinadas cores para representar sentimentos específicos, mas infelizmente isso não é aproveitado, dando lugar à aleatoriedade. Além disso, as vozes internas de Todd são dispensáveis em alguns casos, uma vez que é óbvio o que ele está pensando (ao se deparar com a nave de Viola, por exemplo), e isso deveria ser evitado a todo custo, para não tornar o artifício cansativo.

Outros problemas que cansam a experiência de quem está assistindo são as insistentes tomadas aéreas das florestas do Novo Mundo e a pálida criatividade na direção de arte – ponto fundamental para o bom desempenho de ficções científicas. Por outro lado, o figurino acerta ao envolver o prefeito Prentiss (Mads Mikkelsen) em um casaco de tom avermelhado, ressaltando sua natureza. Já a ideia de chamar os pensamentos de Ruídos é adequada, ao associá-los a algo que mais prejudica do que ajuda.

O longa ainda derrapa ao apresentar um vilão cujas motivações mal são aprofundadas, além de optar por caminhos previsíveis e repetitivos. E é curioso que Holland protagonize a trama, já que em vários instantes a produção parece pegar emprestadas as artimanhas do vilão Mysterio, de Homem-Aranha: Longe de Casa.

Holland e Ridley possuem boa química e é sempre agradável acompanhar Mikkelsen dando vida a tipos suspeitos, mas, fora isso, sobra pouco de empolgante em Mundo em Caos, o que decepciona em um projeto tão ambicioso. Dada a natureza de sua criação literária, é de se cogitar eventuais sequências, mas ainda que estas tragam ares mais qualificados ao universo cinematográfico aqui criado, isso não recuperará a fraca inspiração de seus criadores neste capítulo.