Crítica | Luta por Justiça (Just Mercy) [2020]

Nota do filme:

“Você já é culpado no momento em que nasce” Walter McMillian

Baseado em uma história real, o filme é dirigido por Destin Daniel Cretton e conta o caso de Walter McMillian (Jamie Foxx), que foi condenado à morte pelo homicídio de uma jovem de 18 anos, apesar das evidências comprovarem sua inocência. No elenco está Michael B. Jordan, que interpreta o advogado recém-formado em Harvard, Bryan Stevenson, que abre mão de uma carreira lucrativa em escritórios renomados da costa leste americana para se mudar para o Alabama a fim de se dedicar aos prisioneiros condenados à morte que não recebem assistência legal justa.

Bryan se muda para o Alabama contrariando os conselhos da mãe, Alice Stevenson (Charmin Lee), e tenta fundar uma organização (que mais tarde passa a se chamar Iniciativa pela Justiça Igualitária) para ajudar os prisioneiros no corredor da morte que não contam com defesa qualificada. Ao chegar, ele se depara com o caso de McMillian e fica intrigado como uma acusação tão parca permitiu que um homem fosse condenado com a pena de morte.

O desenrolar de toda a obra é focado no processo de McMillian, mesmo que apresente outros personagens em condições similares, como Herbert Richardson (Rob Morgan) e Anthony “Ray” Hinton (O’Shea Jackson Jr.), não perde o foco e apenas nos créditos finais exibe o destino destes, deixando claro qual é o cerne do roteiro. Preconceito racial, humilhação e manobras legais controversas são alguns dos absurdos que Stevenson encontra na busca pela justiça. O caminho do advogado é árduo, enfrentando, inclusive, resistência das autoridades, que preferem uma solução rápida e precária à elucidação dos fatos.

A trama é partidária ao mostrar estatísticas que evidenciam a ineficiência do sistema judiciário ao julgar condenados à pena de morte e tentar, assim, validar seu ponto. Trata-se de uma questão que merece reflexão e toda oportunidade de trazer algo como uma pena tão severa à tona é bem-vinda. Não tem como não lembrar da minissérie da Netflix Olhos que Condenam (criada por Ava DuVernay, 2019), sobre a injusta e real condenação de cinco adolescentes nos EUA, do documentário Provas Suspeitas (Netflix, 2019) e do excelente longa À Espera de um Milagre (dirigido por Frank Darabont, 2000).

As falhas das condenações em pena de morte e o racismo são os pontos principais do drama. São inúmeras as situações em que o preconceito racial é demonstrado em cena, como em uma passagem em que Ray conta que o promotor disse que “podia dizer que ele era culpado só de olhar para ele”. Condenado por duplo homicídio com base quase que inteiramente em um relatório balístico duvidoso, obviamente que se trata de uma sentença racista, abusiva e inaceitável. Não à toa que o famigerado argumento de Lombroso não se sustenta, apoiado em preconceitos, métodos falhos e hipóteses falaciosas.

O elenco é primoroso: as atuações de Jordan e Foxx estão convincentes e carregam na medida toda a carga dramática necessária para os papéis. Brie Larson (Eva Ansley) se junta a eles com a mesma dedicação, mas em um papel menor e sem muita relevância. Tim Blake Nelson (Ralph Myers), apesar do pouco tempo de tela, impressiona e some na pele do problemático Myers. O drama comove e trata de temas válidos a serem refletidos, como injustiça, racismo, sistema judiciário e carcerário, abuso policial e pena de morte. A trilha sonora também contribui para conferir mais emoção à obra. Contudo, a narrativa não ousa e busca ganhar o público com o apelo do tema.

Não se discute tamanha a importância de uma história baseada em um caso real de forte preconceito racial, mas soa como um filme panfletário que milita não apenas contra o sistema judiciário dos EUA, mas sobretudo, contra a pena de morte. Com frases de efeito e discursos apaixonados em prol da igualdade entre as pessoas e da Justiça como um bem maior, não inova no cenário cinematográfico, mas emociona o espectador e traz à tona temas cruciais à dignidade humana.

Luta por Justiça estreia em 20 de fevereiro de 2020 nos cinemas.

Direção: Destin Daniel Cretton | Roteiro: Andrew Lanham, Destin Daniel Cretton | Ano: 2020 | Duração: 136 minutos | Elenco: Michael B. Jordan, Jamie Foxx, Brie Larson, Rob Morgan, Tim Blake Nelson, Rafe Spall, O’Shea Jackson Jr., Karan Kendrick, Michael Harding, Charmin Lee, Hayes Mercure, Dominic Bogart, Darrel Britt-Gibson, Greta M. Glenn, Christopher Wolfe, J. Alphonse Nicholson, Adam Boyer, Lindsay Ayliffe, CJ LeBlanc, Terrence Rosemore, Ted Huckabee.