Crítica | Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story) [2018]

Divulgação: Lucasfilm

Desde que foram anunciadas as antologias de Star Wars, sempre houve um receio de como a Disney exploraria esses mundos sem perder a essência da franquia. Porém tudo mudou com o sucesso de Rogue One, o que fez com que o espectador confiasse um pouco mais na empresa para adentrar nessa área sensível. No entanto, o filme de origem de Han Solo, um dos personagens mais amados da saga, possuía essa aura estranha de que poderia dar muito errado, sendo que ainda sofreu na pré-produção com rumores sobre as habilidades interpretativas do protagonista e também com a demissão dos diretores Phil Lord e Christopher Miller por conta de divergências criativas, assumindo Ron Howard (A Beautiful Mind) para comandar a produção. E o resultado é satisfatório.

Sendo assim, o longa serve para contar a origem do jovem que sonha em ser um grande piloto da galáxia, o badass Han Solo, eternizado por Harrison Ford, tendo que ter um ator que conseguisse cativar o público a criar identificação com ele, fato este que não possui muito êxito. Alden Ehrenreich não convence como o icônico mercenário, apesar de tentar copiar os trejeitos marcantes do personagem, como sua forma de atirar ou seus olhares penetrantes, soando como se fosse um bom moço, o mocinho da história, e todos que já assistiram a trilogia original sabem que não é desse jeito que Solo é apresentado. Isso se torna compreensível por ele representar uma fase mais jovem do personagem, podendo ter essa atmosfera de inocência juvenil e pureza, contudo não convence nenhum pouco, podendo até colocar em xeque se os rumores de que foram contratados professores de atuação para o menino são verdadeiros.

Todavia, apesar do Han Solo não atrair muito, quem rouba a cena é Lando Calrissian e Qi’Ra, interpretados por Donald Glover e Emilia Clarke respectivamente. Glover exala carisma em cena e é de longe o personagem mais envolvente do filme, tendo uma química muito grande com qualquer um de seus parceiros em cena. Clarke possui a personagem mais sombria, aquela que o espectador não sabe o que ela fez, de que lado ela está, totalmente imprevisível, o que é amplificado ainda mais com um grande fanservice perto do final do longa, e ela consegue passar isso com seus olhares profundos, poucos diálogos e na forma que ela demonstra seus sentimentos para com o protagonista. Vale também ressaltar o personagem de Woody Harrelson, que serve como uma figura paterna mercenária para Han.

Divulgação: Lucasfilm

Por mais que as atuações se destaquem, é com a direção de Ron Howard que a ação acontece. Feita de maneira ágil pelo diretor, aliada a uma edição rápida, as cenas de ação não deixam a desejar e se tornam o ponto alto do filme, sempre de maneira envolvente sem deixar escapar muitas coisas, a execução da cena é bem visível, diferente de muitos filmes do gênero que ficam balançando a câmera pra esconder uma direção porca, mostrando ao espectador pequenos recortes do que poderia estar acontecendo. Na medida em que as cenas de ação são boas, o diretor não consegue criar uma carga dramática intensa em momentos mais pessoais, se tornando algo que passa batido. E ainda, a trilha não consegue amplificar essas cenas, ela apenas funciona para acentuar os momentos de ação, servindo perfeitamente para esses momentos.

Já na fotografia, o filme é regido pelas cores azuis e amarelas, em tonalidades muito sombrias, o que acaba atrapalhando um pouco o longa, visto que ele não é algo denso como Blade Runner, e sim uma aventura espacial alegre, na medida do possível. O roteiro entrega diálogos padrões para esse tipo de filme, e situações bizarras que poderiam ser modificadas que todos os envolvidos sairiam ganhando, sendo que ainda o final da margem para uma sequência. A direção de arte, o figurino e os efeitos visuais são padrões Star Wars, muito bem produzidos mas nada de revolucionário para a saga. E ainda, o filme tem o problema de ser muito longo: 135 minutos, que se tornam bem cansativos devido a história não ser tão envolvente como seu predecessor antológico.

Logo, o longa cumpre o que propõe a se fazer, que é entregar uma história de origem sobre o mercenário mais amado e odiado do universo, servindo como uma ótima aventura até para os que não estão familiarizados com a franquia. Agora resta ficar na torcida para a empresa do Mickey anunciar um filme solo do Lando, dando total controle criativo para Donald Glover, porque essa sim será uma história bastante aguardada. Mais aguardada ainda que a possível sequência de Han Solo.