Crítica | Druk – Mais Uma Rodada (Druk) [2020]

Nota do filme:

O ano era 2012, e o diretor Thomas Vinterberg, o roteirista Tobias Lindholm e o ator Mads Mikkelsen se reuniram para criar a obra-prima conhecida como A Caça. Assim, quando constatamos que Druk repete a reunião dos três artistas dinamarqueses, a expectativa só pode ser das maiores. E embora não atinja os mesmos resultados daquele, este longa possui pontos muito positivos.

A trama gira em torno de quatro professores de Ensino Médio – Martin (Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen, ótimo ator que também atuou em A Caça e em Festa de Família, o filme que tornou Vinterberg famoso), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe) – sujeitos que, desgostosos com suas vidas pessoal e profissional, procuram algum tipo de empolgação para suas rotinas. Após um jantar de aniversário, os docentes resolvem testar a teoria do psiquiatra norueguês Finn Skårderud, que defende a ideia de que o ser humano precisa manter um nível mínimo de álcool no sangue para levar o cotidiano de maneira mais leve e, consequentemente, viver com maior felicidade. Algo que emula Os Idiotas, de Lars von Trier, um dos marcos do movimento Dogma 95, do qual Vinterberg fez parte.

Não demora muito para que a situação fuja de controle e, embora esse caminho tomado pelo roteiro possa ser considerado previsível, o que torna a narrativa interessante é o modo como o desenrolar dos acontecimentos se dá, mesclando eficientemente o desconforto crescente com a diversão. E basta acompanhar as desventuras daqueles personagens, construídas em várias gags bem elaboradas, para apostar que o quarteto de protagonistas deve ter se divertido consideravelmente durante as filmagens.

A direção de Vinterberg procura não chamar muito a atenção, mas apresenta alguns momentos inspirados, como a tomada que mostra Nikolaj (o mentor intelectual do plano) como o único iluminado em um instante no qual os quatro estão enfrentando um dilema, ou quando Martin, vivendo uma crise provocada pela bebedeira, surge enquadrado como se estivesse preso em uma cela.

Mas, infelizmente, nem tudo é mérito em Druk. A produção contém algumas inconsistências que a tornam um tanto irregular, especialmente em dois aspectos. O primeiro se refere ao roteiro; fica evidente, assim que a proposta da narrativa é colocada, que o drama daqueles indivíduos passará pela perspectiva do alcoolismo. Portanto, quando o letreiro do filme faz uma pausa dramática para incluir a palavra em questão, a última coisa que sentimos é surpresa. Já o segundo diz respeito ao desfecho da história, que chega a soar deslocado do tom principal testemunhado até então, e também pouco catártico, embora a cena final seja bonita e dotada de grande sensibilidade.

No entanto, se a abordagem do universo do alcoolismo é previsível, é preciso reconhecer que a representação desse mundo é feita com muita verossimilhança, algo que é retratado nas seguidas buscas daqueles homens por justificativas para aumentar o nível de álcool no sangue, ou o olhar hipnótico de Martin para o copo, algo que remete à brilhante composição de Ray Milland em Farrapo Humano.

E já que estamos falando em Martin, é fundamental mencionar a atuação de Mikkelsen, que se torna o ponto alto da obra. Com olhares doces e intensos, o ator compõe um protagonista que desperta empatia constante, o que é fundamental para o bom andamento do projeto. Repare, por exemplo, na cena do jantar em que a teoria de Skårderud é apresentada, como sua expressão facial mistura encanto e frustração, sem que uma palavra sequer seja dita.

Funcionando como uma espécie de A Onda na qual os professores é que são as cobaias, Druk cria uma expectativa – desde sua premissa – que não chega a atingir seu pleno potencial, mas que reserva diversos momentos memoráveis que ficam na memória do espectador por bastante tempo após seu encerramento.