Crítica | Cry Macho: O Caminho para a Redenção (Cry Macho) [2021]

Nota do Filme:

Baseado no romance homônimo de N. Richard Nash, o novo filme de Clint Eastwood traz de volta o lado cowboy do ator, que além de estrelar, também dirige o longa. Na obra, ele faz o papel de Mike Milo, um treinador de cavalos que foi um grande astro do rodeio, no passado. Após ser demitido, seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), o procura com um pedido inusitado: que ele se dirija ao México para resgatar o filho de Polk, Rafael/Rafo (Eduardo Minett), que está vivendo em situação de maus tratos com a mãe louca, Leta (Fernanda Urrejola).

Howard não demora a convencer Mike a aderir à empreitada, por fazer crer que este tem uma dívida com aquele e o débito seria quitado com o resgaste do jovem. Logo, o protagonista parte para o México e consegue o paradeiro do menino com a mãe, que parece não acreditar muito no sucesso da missão. No entanto, Mike conquista a confiança de Rafo, que decide ir com ele ao encontro do pai.

Atravessando o México rural em seu caminho de volta para o Texas, a dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem. Tal premissa dialoga fortemente com a ideia vista em Gran Torino, filme dirigido por Eastwood em 2008.

Não há como não notar a tentativa de usar a mesma fórmula do filme de 2008. É a velha história do viúvo rabugento e anti-herói, que por baixo da “casca dura” demonstra sensibilidade e preocupação com os mais vulneráveis e, com a convivência forçada com o pequeno jovem, passa a ensinar conceitos básicos da vida, servindo de exemplo para ele. Até mesmo a pincelada amarga no âmbito do aspecto religioso consta neste também. Nesse sentido, Cry Macho não inova no currículo de Clint.

O jovem Minett faz bem o seu papel, abraçando a oportunidade de mostrar seu potencial em um longa do renomado Clint Eastwood. Já Fernanda Urrejola, a mãe do menino, esforça-se em uma atuação caricaturesca, que não dá para levar a sério, apesar de que deve ter sido justamente essa a intenção do diretor. O momento em que ela, jovem e bela, tenta seduzir o idoso Eastwood, com seus mais de 90 anos, não funcionou. O cowboy ainda possui seu charme, mas a abordagem usada na cena não fez sentido.

Há algumas conveniências narrativas e o roteiro é conciso até o encontro com o menino, mas depois, como é típico de grande parte das obras do cineasta, fica arrastado, fazendo o espectador perder facilmente a concentração. Contudo, a obra externa sensibilidade e trata de amizade dojeito Clint Eastwood”, como um sujeito difícil de lidar, mas fácil de amar. A maneira enxuta de articular palavras e o modo bruto do ex-cowboy logo dá lugar a uma relação amistosa de “pai-e-filho”, o que se percebe com transparência dada a química entre Eastwood e Minett.

Nota-se claramente que mesmo na altura de seus 91 anos, o diretor exala talento na atuação. Contemplar esse Senhor em cima de um cavalo, como nos western spaghetti em que ele interpretava cowboys como ninguém, é quase um fan service. A história de mentor-aprendiz como vista aqui já foi contada antes pelo cineasta – a exemplo: Gran Torino, Menina de Ouro. Cry Macho tenta se reinventar, no entanto não traz novidade para o espectador, é um filme morno, mas não deixa de ser cativante.

Cry Macho: O Caminho para a Redenção estreou em 16 de setembro nos cinemas.

Direção: Clint Eastwood | Roteiro: Nick Schenk, N. Richard Nash | Ano: 2021 | Duração: 100 minutos | Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Dwight Yoakam, Natalia Traven, Horacio García-Rojas, Fernanda Urrejola, Daniel V. Graulau, Ivan Hernandez, Lincoln A. Castellanos, Marco Rodrigues, Abiah Martinez, Ramona Thornton, Elida Munoz, Cesia Isabel Rosales, Jorge-Luis Pallo.