Crítica | 50/50 (50%) [2010]

Nota do Filme:

Como contar uma história difícil de um jeito leve? O diretor Jonathan Levine sabe exatamente como fazer isso, e ele provou com este filme. Em 50% conhecemos a história de Adam Lerner (Joseph Gordon-Levitt), um jovem de 27 anos que leva uma vida mediana: casa alugada, namorada, um trabalho e, é claro, um amigo parceiro para todas as horas. Tudo corria bem até ele receber a notícia que desenvolveu um câncer de um tipo muito raro na coluna, o que, segundo o Google, lhe dá 50% de chance de sobreviver.

O choque é grande, mas Adam não se abala tanto quanto sua mãe e seus colegas de trabalho. Seu amigo, Kyle Hirons (Seth Rogen), tem grande parte nisto, já que ele consegue encarar tudo pelo lado positivo e tirar o máximo de vantagens do infortúnio do amigo, até nas situações mais inesperadas possíveis, trazendo um toque certeiro de humor para o longa. Outro ponto de apoio na sua recuperação é a terapeuta recém-formada Katherine McKay (Anna Kendrick), que, por não ter muita experiência nos atendimentos, acaba oferecendo acolhimento ao paciente como se amigos fossem, o que surte efeitos mais do que positivos.

Aqui cabe uma crítica ao roteiro de Will Reiser, pois senti um incômodo enorme na relação do protagonista com a terapeuta. Olhando da perspectiva da relação profissional que eles deveriam ter, de paciente e terapeuta, ela ultrapassa limites intransponíveis diversas vezes, o que não é escusável pela falta de experiência. É errado em muitos níveis. Entendo que se trata de uma ficção, mas reforçar este tipo de relação problemática em filmes só traz desvantagens para potenciais pacientes, que podem acreditar ser possível manter uma relação deste tipo com o terapeuta, e não é.

Por outro lado, o roteiro merece alguns elogios. Por mais difícil que seja tocar nesse assunto, eu achei importante a parte que mostra as dificuldades enfrentadas pela namorada de Adam, Rachel (Bryce Dallas Howard). Os dois estavam na fase inicial do namoro e não havia ainda um compromisso verdadeiro por parte dela. Ao receber a notícia, ela tomou a atitude que a sociedade esperava dela, mas não a que ela realmente gostaria de ter optado, o que levou a uma série de constrangimentos que poderiam ter sido evitados se ela tivesse sido sincera desde o começo com ele.

Não saber como lidar com os momentos difíceis das pessoas à nossa volta é algo que acontece com muita frequência em relacionamentos de todos os tipos, desde amizades até casamentos de longa data. Quando falta sinceridade de uma das partes, a frustração acaba sendo pior do que a verdade, e isso independe se o relacionamento é longo ou não. Quando estamos passando por dificuldades, é comum tomarmos posições extremas: ou esperamos a compreensão geral da nação, ou achamos que ninguém precisa nos ajudar, e, em ambos os casos, acabamos nos frustrando com as reações das pessoas à nossa volta. No caso de Rachel, por não ter coragem de assumir suas fraquezas, ela acabou piorando uma situação que já era difícil, e não precisava ser assim.

Gostei muito da dinâmica da relação entre Adam e seu melhor amigo, Kyle, e também a forma como ele encarou todo o tratamento. A relação com a mãe também me chamou a atenção, principalmente quando ele passou a entendê-la melhor. Este é, no fim das contas, um bom filme, que entrega situações difíceis sendo lidadas com leveza e momentos de alívio cômico proporcionados por Seth Rogen. Para quem se interessar em assistir, o longa está disponível na plataforma digital da Vivo, o Vivo Play.