Nota do Filme:
Baseado no romance homônimo de N. Richard Nash, o novo filme de Clint Eastwood traz de volta o lado cowboy do ator, que além de estrelar, também dirige o longa. Na obra, ele faz o papel de Mike Milo, um treinador de cavalos que foi um grande astro do rodeio, no passado. Após ser demitido, seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), o procura com um pedido inusitado: que ele se dirija ao México para resgatar o filho de Polk, Rafael/Rafo (Eduardo Minett), que está vivendo em situação de maus tratos com a mãe louca, Leta (Fernanda Urrejola).
Howard não demora a convencer Mike a aderir à empreitada, por fazer crer que este tem uma dívida com aquele e o débito seria quitado com o resgaste do jovem. Logo, o protagonista parte para o México e consegue o paradeiro do menino com a mãe, que parece não acreditar muito no sucesso da missão. No entanto, Mike conquista a confiança de Rafo, que decide ir com ele ao encontro do pai.
Atravessando o México rural em seu caminho de volta para o Texas, a dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem. Tal premissa dialoga fortemente com a ideia vista em Gran Torino, filme dirigido por Eastwood em 2008.
Não há como não notar a tentativa de usar a mesma fórmula do filme de 2008. É a velha história do viúvo rabugento e anti-herói, que por baixo da “casca dura” demonstra sensibilidade e preocupação com os mais vulneráveis e, com a convivência forçada com o pequeno jovem, passa a ensinar conceitos básicos da vida, servindo de exemplo para ele. Até mesmo a pincelada amarga no âmbito do aspecto religioso consta neste também. Nesse sentido, Cry Macho não inova no currículo de Clint.
O jovem Minett faz bem o seu papel, abraçando a oportunidade de mostrar seu potencial em um longa do renomado Clint Eastwood. Já Fernanda Urrejola, a mãe do menino, esforça-se em uma atuação caricaturesca, que não dá para levar a sério, apesar de que deve ter sido justamente essa a intenção do diretor. O momento em que ela, jovem e bela, tenta seduzir o idoso Eastwood, com seus mais de 90 anos, não funcionou. O cowboy ainda possui seu charme, mas a abordagem usada na cena não fez sentido.
Há algumas conveniências narrativas e o roteiro é conciso até o encontro com o menino, mas depois, como é típico de grande parte das obras do cineasta, fica arrastado, fazendo o espectador perder facilmente a concentração. Contudo, a obra externa sensibilidade e trata de amizade do “jeito Clint Eastwood”, como um sujeito difícil de lidar, mas fácil de amar. A maneira enxuta de articular palavras e o modo bruto do ex-cowboy logo dá lugar a uma relação amistosa de “pai-e-filho”, o que se percebe com transparência dada a química entre Eastwood e Minett.
Nota-se claramente que mesmo na altura de seus 91 anos, o diretor exala talento na atuação. Contemplar esse Senhor em cima de um cavalo, como nos western spaghetti em que ele interpretava cowboys como ninguém, é quase um fan service. A história de mentor-aprendiz como vista aqui já foi contada antes pelo cineasta – a exemplo: Gran Torino, Menina de Ouro. Cry Macho tenta se reinventar, no entanto não traz novidade para o espectador, é um filme morno, mas não deixa de ser cativante.
Cry Macho: O Caminho para a Redenção estreou em 16 de setembro nos cinemas.
Direção: Clint Eastwood | Roteiro: Nick Schenk, N. Richard Nash | Ano: 2021 | Duração: 100 minutos | Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Dwight Yoakam, Natalia Traven, Horacio García-Rojas, Fernanda Urrejola, Daniel V. Graulau, Ivan Hernandez, Lincoln A. Castellanos, Marco Rodrigues, Abiah Martinez, Ramona Thornton, Elida Munoz, Cesia Isabel Rosales, Jorge-Luis Pallo.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).