Crítica | Bohemian Rhapsody (2018)

14 semanas em primeiro como single mais escutado do Reino Unido. Seis vezes disco de platina nos EUA, duas vezes na Itália e uma em seu país natal. Vencedora na categoria de melhor música no British Awards, prêmio mais importante de seu cenário na terra da rainha. Esses são apenas alguns dos vários recordes de uma das canções mais marcantes e influentes da história.

Hoje, a música Bohemian Rhapsody é quase uma unanimidade de crítica e público – muito diferente do que aconteceu na época de seu lançamento. Sua estrutura inventiva, sua diversidade melódica e a riqueza de sua letra refletem com perfeição o momento vivido e o pensamento do Queen nos primeiros anos de sua história. Ao apresentar uma faixa com quase seis minutos de duração e que mistura ópera, rock e ritmos mais dançantes, a banda foi completamente contra o pensamento conservador e “quadrado” das gravadoras, que consideravam quase impossível o sucesso e a aceitação dos fãs por uma música tão diferente dos padrões.

Rami Malek como Freddie Mercury

O cantor Freddie Mercury (Rami Malek), o guitarrista Brian May (Gwilym Lee), o baterista Roger Taylor (Ben Hardy) e o baixista John Deacon (Joseph Mazzello) levaram o mundo da música à um novo nível ao criar a banda de rock Queen, em 1970. Suas canções se tornaram clássicos instantâneos e espalharam o nome do grupo por todo o planeta. Quando o estilo inconsequente e festeiro de Freddie começou a perder completamente o controle, a banda teve que enfrentar o seu maior desafio até então: achar uma forma de se manter unida no meio do sucesso e dos excessos de seu vocalista.

Depois de diversas polêmicas durante a produção do longa, como sua constante ausência no set de filmagens e acusações de assédio envolvendo seu nome, o diretor Bryan Singer [X-Men (2000), X2 (2003), Superman Returns (2006) e Valkyrie (Operação Valquiria) (2008)] foi demitido do projeto pela Fox. Dexter Fletcher [Eddie the Eagle (Voando Alto) (2016)] foi o escolhido pelo estúdio para finalizar as últimas semanas de gravações e dar toques finais ao filme – mesmo assim, o nome de Singer ainda aparece nos créditos como o diretor responsável pela obra.

Joseph Mazzello, Ben Hardy, Rami Malek e Gwilym Lee

Escrito por Anthony McCarten e Peter Morgan, o roteiro do filme foca, quase que exclusivamente, na figura de Freddie Mercury – como já sugere o cartaz e os materiais publicitários do longa. Os demais membros da banda têm a sua importância bastante ignorada e/ou diminuída, funcionando como meros coadjuvantes nos processos criativos e no dia-a-dia do grupo, o que se mostra uma decisão bastante questionável pensando que essa poderia ser uma cinebiografia do grupo como um todo, e não apenas de seu vocalista. Além disso, os demais personagens secundários são unidimensionais e pouco desenvolvidos, não adicionando tanto quanto poderiam à história.

Isso fica ainda mais escancarado quando analisamos a estrutura narrativa dos 135 minutos de tela. No primeiro ato, tudo se desenrola da forma mais corrida possível. Parece que os acontecimentos pré-Queen e anteriores ao sucesso absoluto da banda são mostrados no longa apenas para “cumprir tabela” e abrir espaço para o protagonismo de Freddie Mercury. Sua entrada para o grupo de Brian, Roger e John; o lançamento do primeiro disco; sua mudança de Farrokh Bulsara – nome palestino – para Freddie Mercury; o casamento com Mary; e sua tomada de liderança, são fatos nada orgânicos e muito repentinos. Isso prejudica, e muito, a primeira hora da experiência. O ritmo frenético dos acontecimentos acaba se mostrando cansativo e em partes desinteressante.

Rami Malek como Freddie Mercury

Porém, mesmo com diversos escorregões, o filme apresenta vários fatores bastante positivos. Rami Malek carrega o longa nas costas com uma ótima atuação. O ator incorporou o espírito, as performances e os trejeitos corporais de Freddie Mercury de maneira caricata (no melhor dos sentidos), natural e crível. Além disso, a transição entre cenas foi projetada para conter os trechos mais importantes dos maiores sucessos do Queen, enquanto que os momentos de composição e gravação são transformados em empolgantes videoclipes do grupo.

A duração da trama é consideravelmente longa, mas poderia ser ainda maior. Alguns minutos extras poderiam ser utilizados para detalhar com um maior esmero o primeiro ato, visto que o material fonte tem potencial o suficiente para prender a atenção do espectador. Por outro lado, uma coisa que o filme faz muito bem é reproduzir os shows mais marcantes da banda. O Rock in Rio 1985 e o Live Aid do mesmo ano são bons exemplos disso. Enquanto o evento realizado em terras tupiniquins serve como um elemento fundamental de transição da carga dramática na trama, o segundo festival fecha com chave de ouro a experiência cinematográfica.

Bohemian Rhapsody é uma cinebiografia formulaica e que recorre a diversos pontos comuns. Porém, a escolha de retratar o lado mais “obscuro” de Freddie Mercury, a edição pautada nos sucessos do grupo e o casting acertado acabam ofuscando o CGI mal feito e os diversos problemas de roteiro e ritmo. Para os fãs, nada como reviver os momentos marcantes e se arrepiar com as músicas Somebody to Love, We Are the Champions e Love of My Life. Para os demais, é uma boa chance para conhecer um pouquinho mais de uma das maiores bandas de todos os tempos.

Confira o trailer completo: