Crítica | Babilônia (Babylon) [2022]

Nota do filme:

Eu quero fazer parte de algo maior.

Do mesmo diretor de Whiplash (2014), La La Land (2016) e O Primeiro Homem (2018), Babilônia conta a história de três figuras distintas do mundo do cinema nos anos 20: Jack Conrad (Brad Pitt), Nellie LaRoy (Margot Robbie) e Manny Torres (Diego Calva), cada qual vivendo sua jornada dentro da indústria e buscando conquistar os próprios sonhos.

Jack é um ator consagrado do cinema mudo, que manda e desmanda em suas produções. Nellie, por sua vez, é uma aspirante a atriz, que se considera uma estrela desde sempre. Já Manny é um homem simples, mas com um timing impecável no trabalho, o que de pronto chama a atenção de Jack, que o chama para ser seu ajudante no set.

Manny é o ponto que liga Jack e Nellie, estes que quase não contracenam, mas vivem vidas paralelas de queda e ascensão que, de certa forma, se assemelham. A vida para eles era agitada: muitas festas, bebidas, drogas, tudo em exagero. Foi uma fase de abundância na indústria hollywoodiana, e todos aproveitaram à sua maneira.

Na época do cinema mudo, nos estúdios abertos era onde tudo acontecia ao mesmo tempo, e, por não precisarem se preocupar com o som, muitos filmes eram gravados lado a lado, no mesmo dia e na mesma hora, algo inimaginável nos dias de hoje. Tudo começa a mudar com a chegada do cinema falado, que muda não só a história de nossos protagonistas, como de todo o cinema.

Do dia para a noite, Jack, um ator de ponta que fazia todos os melhores filmes da época, passa a ser preterido e até ridicularizado em suas atuações; Nellie, que acabara de conquistar seu lugar ao sol, é considerada fora do padrão das atrizes do estúdio que foi contratada, apesar dos enormes esforços de Manny para encaixá-la nos padrões da alta sociedade de Los Angeles; e Manny, que mal conseguira seu espaço nos bastidores como tanto sonhou, se vê absorto em problemas que ele não é capaz de resolver e acaba vendo seu sonho americano se desfacelar bem na sua frente.

Essa transição dos anos 20 para os anos 30 e do cinema mudo para o cinema falado foi muito brusca para alguns atores e até para a indústria, que sofreu para se adaptar às exigências deste novo modelo. Diversos filmes já retrataram tais dificuldades, como, por exemplo, um dos meus filmes preferidos da vida, Cantando na Chuva, de 1952.

O filme ainda conta com a participação de Li Jun Li na pele de Lady Fay Zhu, uma famosa atriz que se vê facilmente substituída pelos novos costumes e exigências da indústria; Jovan Adepo como o trompetista Sidney Palmer que chega a viver seus momentos de glória no cinema, mas logo volta aos palcos da música por não se adaptar às exigências dos estúdios; Tobey Maguire interpretando o sinistro e bizarro James McCay, dono de cassino e excêntrico; e, por breves segundos, vemos Olivia Wilde na pele de Ina Conrad, primeira esposa de Jack.

Apesar das três horas (por vezes cansativas) de Babilônia, tudo acontece muito rápido. Assim como – segundo a Bíblia – ocorreu à cidade de Babilônia às margens do Rio Eufrates, a Babilônia criada, roteirizada e dirigida por Damien Chazelle também é destruída, restando apenas frações e alguns registros de sua existência, banhadas por muita saudade e certo rancor.

Babilônia recebeu 3 indicações ao Oscar; misturou drama, história e comédia; trouxe, ao mesmo tempo, uma crítica e uma homenagem à indústria que acolheu o tão jovem diretor, este que trouxe todo o seu amor e admiração pelo cinema em forma de filme. Recomendo muito!