Crítica | Aqueles que Ficaram (Akik Maradtak) [2019]

Nota do Filme:

“Eu simplesmente fui deixada para trás.”

Wiener Klára

Aqueles que Ficaram segue a vida de Körner Aladár (Károly Hajduk) e Wiener Klára (Abigél Szõke) em meio a uma Hungria pós-Segunda Guerra Mundial. Ele, um médico sobrevivente dos campos de concentração nazista. Ela, uma jovem que se recusa a aceitar a morte de seus pais, a despeito de seu desaparecimento. Após uma consulta, ambos irão se ligar pelo sentimento de perda e desilusão surgidos após as tragédias pelas quais passaram.

Representa da Hungria na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, recentemente foi confirmado na shortlist da Academia. Com uma história emotiva e sentimental, é natural ao espectador esperar uma catarse que, todavia, jamais chega.

Aqueles que Ficaram tem um começo sólido, não se enganem. O início da relação entre os protagonistas perpassa um sentimento interessante, com o qual o espectador, certamente se conectará, uma vez que todos temos vazios a serem preenchidos. Dessa forma, a relação de ambos, fraternal, atrai olhares impuros, que não conseguem dissociar interesses que eles próprios possam projetar. Ao mesmo tempo, ambos trazem diferentes questões acerca da problemática da guerra, ele um sobrevivente que perdeu tudo, ela com a dor da ausência de uma resposta definitiva.

Todavia, no decorrer da obra, ocorrem mudanças de paradigmas contestáveis e, pior, sem qualquer embasamento no mostrado até então. As alterações, então, dão a impressão de serem meramente “jogadas” em tela, sem qualquer cuidado ou elegância, fazendo com que a audiência se sinta, no mínimo, enganada. De tal maneira, o longa se mantém no que se espera de um drama pós-guerra, nunca trazendo algo de diferente ao gênero.

No que diz respeito à atuação, porém, o longa se destaca. Károly Hajduk quanto Abigél Szõke já haviam contracenado juntos em O Estrangulado e, aqui, convencem com uma química curiosa. Quanto à direção, que aqui compete a Barnabás Tóth, mantém-se na média, jamais comprometendo o resultado final mas, ao mesmo tempo, jamais elevando-o.

Dessa forma, Aqueles que Ficaram apresenta uma premissa naturalmente imersiva, ao mesmo tempo em que conta com um primeiro ato sólido. Contudo, decisões equivocadas rebaixam a obra, tornando-a aquém do que prometia. Assim, ainda que venha a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, será difícil retirar a estatueta do favorito Parasita.

Filme visto durante o 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019