Crítica | Parasita (Gisaengchung) [2019]

Nota do Filme :

Parasitas são seres vivos que retiram de outros organismos os recursos necessários para a sua sobrevivência. Eles são considerados agressores, pois prejudicam o organismo hospedeiro através do parasitismo. O parasita pode viver muitos anos em seu hospedeiro sem lhe causar grandes malefícios, ou seja, sem prejudicar suas funções vitais. Entretanto, alguns deles podem até levar o organismo à morte, neste caso, porém, o parasita sucumbirá junto com seu hospedeiro, uma vez que, era através dele que ele se beneficiava unilateralmente.

“Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.”

Bong Joon-ho retorna para os filmes em língua coreana após Okja (2017), com a sua nova obra Parasite, vencedora da Palma de Ouro no festival de Cannes, sendo a primeira que o país leva, trazendo uma saga satírica sobre as classes sociais sob sua ótica, que confere sarcasmo a obra.

Para isso, o roteiro é escrito de forma que os personagens de cada núcleo sejam opostos entre si, singularmente, de maneira que o semelhante de cada seja uma face da mesma moeda, criando um humor ácido que permeia a narrativa. Ademais, essa comédia se molda também através de alguns estereótipos das classes sociais, pois ao colocar os dois núcleos em contraste, o absurdo se torna notável.

Com isso, Joon-ho utiliza, em sua maioria, uma câmera que segue os personagens conforme eles exploram a casa da família burguesa, de forma a passar a sensação de surpresa inicial que eles experimentam para o público, e, além disso, a movimenta de forma sutil, vertical e horizontalmente, a fim de estabelecer a relação de algo no cenário, ou fora dele, com o personagem que está em tela.

Ainda, a câmera sempre busca retratar a marginalidade em que os personagens vivem, seja os mostrando enclausurados em um porão, como se fosse um esgoto, ou, de forma mais explícita, a reação dos burgueses quando entram em contato com eles, pois, por mais que os “parasitas” se nutram e tomem o lugar, o hospedeiro reconhece que aquilo nunca se tornará um igual, recaindo esse choque sobre os personagens.

Além disso, é necessário ressaltar o trabalho da fotografia e da direção de arte na criação de todos os estigmas que o diretor cria e desconstrói. A primeira vai utilizar o verde para retratar a família de Ki-taek, no sentido de conotar a podridão, seja no quesito individual para cada personagem ou na ambientação deles, caracterizando o local sujo que eles vivem, ou, a grosso modo, o esgoto. E, ainda, aplica cores quentes na casa dos burgueses, como o laranja e o vermelho, de forma a ilustrar o embate, por mais que não seja explícito, dos hospedeiros com os parasitas.

No mais, a direção de arte demonstra as excentricidades burguesas, permeada de estereótipos, como consumir água em sachê ou o vazio da casa deles em meio a falta de preenchimento, fazendo contraste com as futilidades e frivolidades mundanas. E, em relação aos “parasitas”, ela comprime o espaço deles ao máximo, em um local que já é pequeno, demonstrando a sujeira e a pobreza, além de criar a identidade visual deles, que também faz surgir o humor ácido conforme o filme avança.

Em relação a edição, ela é bastante sóbria ao ditar o ritmo, pois após dado momento do longa, transforma totalmente a sua estrutura de forma a aumentar a intensidade, bem como a rapidez e dinâmica dos eventos, visto que com essa alteração, o que antes demorava dias para se concretizar (no tempo do filme), se resolve em apenas algumas horas, o que, de forma nenhuma, é ruim, pelo contrário, se torna intensamente mais eletrizante.

Vale ressaltar que não há um grande destaque individual na atuação, porém o elenco tem bastante química e isso faz com que a narrativa simplesmente flua, sem soar piegas ou forçada, beirando o absurdo sempre quando possível por conta do excelente roteiro escrito.

Portanto, Parasite é, sem dúvidas, um dos melhores filmes de 2019, consolidando ainda mais o cinema sul coreano como um dos mais importantes desde os anos 2000. Ainda, foi feito em um período no qual a sua crítica mordaz pode, inclusive, atacar, a depender exclusivamente do ponto de vista do espectador.