Crítica | A Lavanderia (The Laundromat) [2019]

Nota do Filme:

Os Panama Papers ou Documentos do Panamá, são um conjunto de 11,5 milhões de documentos confidenciais de autoria da sociedade de advogados panamenha Mossack Fonseca, na qual uma fonte anônima os enviou para a imprensa, revelando como a empresa operava na ocultação de dinheiro de políticos e figuras públicas de todo o mundo, se tornando um dos maiores vazamentos de dados da história.

“Ramón Fonseca (Antonio Banderas) e Jürgen Mossack (Gary Oldman) comandam um escritório de advocacia sediado na Cidade do Panamá, de onde gerenciam dezenas de empresas. Eles participam de todo tipo de fraude, sempre dispostos a faturar mais. Um dos casos envolve o pagamento da indenização a Ellen Martin (Meryl Streep), após seu marido Joe (James Cromwell) falecer devido a um acidente de barco. Sem receber a quantia prometida, ela decide investigar por conta própria a empresa que está lhe dando calote.”

Em mais uma parceria com a Netflix depois do ótimo High Flying Bird, Steven Soderbergh retorna com o seu segundo filme em 2019, dessa vez sobre um dos maiores escândalos da história recente global, sobrecarregado de sarcasmo e cinismo na medida que o roteiro permite.

Com isso, o roteirista Scott Z. Burns (O Ultimato Bourne) tenta aplicar em seu texto o mesmo dinamismo presente em A Grande Aposta, utilizando dois narradores para explicar os eventos, termos técnicos e criar o humor ácido. Contudo, diferentemente do filme de Adam McKay, A Lavanderia se auto sabota por empregar todos os recursos utilizados no outro filme, porém descartando-os ou subutilizando-os.

Desse modo, a narrativa estabelece duas linhas do tempo, porém as duas não avançam simultaneamente, sendo uma preterida  outra com inúmeras subtramas que, apesar de estarem lá para demonstrar o rumo dos acontecimentos, diluem a trama principal, deixando-a esparsa. Ainda, o roteiro apresenta novos personagens a todo momento, o que, além de atrapalhar a conexão com os outros, principalmente com a de Meryl Streep, eles se tornam descartáveis para a trama, o que a deixa desinteressante.

Contudo, por mais que o roteiro se prejudique, a direção de Soderbergh é enérgica com o texto que possui em mãos. Diferentemente dos seus últimos longas, o diretor não utilizou iPhones para gravar A Lavanderia, o que, para quem não gostou desse estilo de filmagem, é ótimo. No mais, Soderbergh consegue eletrizar a narrativa com a movimentação que ele adota para a câmera, locomovendo-a pelo ambiente de forma a demonstrar diversas emoções do elenco conforme os fatos vêm à tona.

O filme se torna exitoso pelo talentoso elenco que tem em mãos, por mais que o roteiro deixe os personagens levemente caricatos. Por exemplo, é redundante exaltar a atuação de Meryl Streep, mesmo que neste longa ela incorpore uma senhora neurótica e ansiosa. Antonio Banderas e Gary Oldman idem, mesmo sendo eles os responsáveis pela acidez sarcástica do texto, conseguem incorporar muito bem o estereótipo de “advogado”, por mais que soe plástico.

Portanto, A Lavanderia deixa um gosto de potencial desperdiçado sobre um tema relevante e atual que poderia ter entrado no panteão de pérolas sarcásticas de filmes sobre o capital que, porém, deverá ser esquecido em um futuro não tão distante.