Crítica | High Flying Bird (2019)

Nota do Filme:

O submundo, ou melhor, os bastidores de qualquer tipo de indústria possuem a fama de serem inescrupulosos e frios, onde o dinheiro fala mais alto frente a dignidade ou bem-estar da pessoa que movimenta esse sistema, como por exemplo um atleta. Face a isso, as pessoas que gerenciam essas carreiras estão dispostas a tudo para adquirir o máximo de lucro possível.

High Flying Bird narra a história de Ray Burke (André Holland), um agente esportivo que se encontra com a carreira em risco em meio a uma batalha entre os donos dos times da NBA e os seus jogadores. Durante um locaute, uma “greve” promovida pelos empresários, ele decide executar um arriscado plano de negócios que pode mudar o jogo para sempre.

Com direção do veterano Steven Soderbergh (Ocean’s Eleven), que opta novamente por gravar o longa com câmeras de celular, como visto em Unsane, seu filme anterior, o diretor ratifica o experimento demonstrado previamente e o transforma em uma nova técnica de filmagem, que, apesar de perceptível a diferença, não deixa a desejar em nenhum momento.

Ademais, apesar da direção de Soderbergh ser bastante técnica ao utilizar uma câmera estática, cuja função é exclusivamente a de compor todo o cenário ao redor e assim estabelecer o grau das relações entre os personagens, quando o diretor emprega planos mais abertos ou uma movimentação sutil, esta é executada perfeitamente justamente pelo roteiro não exigir isso, muito por conta dos diálogos efusivos.

Sendo assim, o roteiro de Tarell Alvin McCraney (Moonlight) lembra as características que Aaron Sorkin (The Social Network) utiliza ao escrever suas próprias narrativas, porém sem o grande detalhe de criar personagens que mais parecem especialistas ou PhD’s em qualquer assunto. Pelo contrário, Tarrel apresenta os diálogos verborrágicos intensos de Sorkin, porém com personagens verossímeis, dando assim um tom de veracidade plausível.

Ademais, a própria estrutura que o roteiro aplica para contar a história não permite que se perca, visto que o roteirista planejou o começo, meio e fim com bastante segurança, o que se reflete em tela.

Além disso, pela própria verborragia exigida, as atuações fazem juz ao que é necessário para concretizar o roteiro, tendo grande destaque para André Holland (Moonlight) e Zazie Beetz (Deadpool 2) em que ambos servem de contraponto ao outro, sendo que o primeiro possui a falta de escrúpulos de um agente esportivo, e a segunda, mesmo que sua ambição esteja clara, manipula todos para atingir os seus objetivos mesmo que seja visível sua preocupação com as pessoas que está afetando.

E o resto do elenco, que apesar de não haver um grande destaque individual, compõe muito bem toda a tensão da trama com cada um deixando claro os próprios objetivos, além de utilizar atores veteranos para isso como Kyle MacLachlan (Twin Peaks) e Zachary Quinto (Heroes).

Apesar disso, mesmo que o filme estabeleça todo o tom da narrativa através da edição e da fotografia, ao optar por não utilizar trilha sonora durante quase toda a projeção, apenas aplicando-a no final para suavizar levemente a atmosfera, o longa se torna mais cru, causando indigestão na audiência onde era para haver apenas tensão.

Já a fotografia utiliza uma composição de azul para representar toda a frieza que existe nesse ambiente, além de criar a atmosfera pesada de que há algo que preocupa todos naquele ambiente, e também aplica o amarelo para identificar os momentos mais emotivos, bem como os conflitos mais intensos que os personagens têm um com o outro.

E em relação a edição e a fotografia, a primeira estabelece cortes bruscos para ditar o ritmo da narrativa, sendo que a sua montagem resultará no trabalho de direção de Soderbergh, além de que ao inserir entrevistas e relatos de jogadores de verdade da NBA entre as cenas, consegue estabelecer uma narrativa paralela a principal e acaba dividindo filme em capítulos indiretamente.

Concomitante a isso, o ponto forte do filme é disparado o seu roteiro que consegue apresentar resoluções satisfatórias, desenvolver seus personagens suficientemente bem e, como dito anteriormente, hipnotizar a audiência por conta da verborragia inflamada, além de possuir um final chocante, dentro do que se propõe a fazer.

Portanto, High Flying Bird se torna uns dos bons filmes do começo da temporada, sem falar de que amplia ainda mais a nova técnica de Soderbergh, além de incrementar o catálogo da Netflix. São tantas coisas boas que surgem desse filme que ficará difícil não prestar atenção aos trabalhos das pessoas envolvidas, principalmente o do roteirista Tarell Alvin McCraney, provando que Moonlight não foi um caso isolado em sua curta carreira até o momento.