“Sinto que é minha chance de dar a ela e ao mundo uma segunda chance.”
Dan Forester
Nota do Filme:
A Guerra do Amanhã acompanha o professor e pai de família Dan Forester (Chris Pratt) quando, no decorrer do final da Copa do Mundo de futebol, a partida é interrompida por viajantes do tempo que buscam convocar soldados para uma guerra que ocorre no ano de 2051. Diante da quase extinção da raça humana em um futuro próximo, Dan se vê forçado em uma guerra que determinará o futuro do planeta.
Produzido pela Paramount Pictures e vendido para a Amazon Prime Video por conta da atual pandemia, trata-se de um filme de ação e ficção científica que, em que pese o enorme potencial, acaba pecando em sua execução, entregando um produto final abaixo do que poderia ser. Não ajudam, em especial, as semelhanças com No Limite do Amanhã[1], com Tom Cruise e Emily Blunt, longa esse que, a despeito da péssima mudança de título, alcança e entrega algo instigante e, ao mesmo tempo, recheado de adrenalina.
Não é para se dizer que A Guerra do Amanhã não tem pontos interessantes, porque os tem. Os “garras-brancas”, aliens responsáveis pela destruição do planeta, contam com um design invejável, fruto do trabalho do diretor Chris McKay – fazendo sua estreia em longa-metragens live-actions –, Jamie Price (supervisor de efeitos visuais) e Peter Wenham (design de produção). Ainda, a sua revelação na história é recheada de tensão, como o momento demanda.
Nesse sentido, todo o cenário do ano de 2051 contribui bastante para a sensação de perda que se busca passar. Trata-se de um mundo calejado e sem esperança, de modo que o fato de que tiveram que voltar no tempo para buscar novos soldados deixa de ser uma mera artimanha do roteiro e passa a ser, de fato, uma necessidade daquele mundo.
O “diretismo” do texto também é um fator a ser apreciado. A chegada do protagonista ao futuro é bem caótica e é acompanhada por diversos eventos que, nas mãos de outros roteiristas, poderiam gerar subtramas desnecessárias, eis que o plot twist seria evidente até ao espectador mais desatento – não se menciona aqui por motivos de spoiler. Aqui, porém, não há espaço para tal – o que, novamente, dialoga com a urgência da situação –, de modo que todas as cartas são postas à mesa desde o primeiro momento.
Há, contudo, uma divergência de tom no decorrer da trama que prejudica a imersão do espectador na história. A classificação indicativa – 14 anos – acaba por minar essa imersão acima indicada, uma vez que é extremamente difícil transmitir a tensão de uma guerra apocalíptica quando muito da violência deve ser suprimida[2]. Ao mesmo tempo, a ausência de um maior elemento de ficção científica no filme diminui o seu escopo ao gênero, uma vez que, tirando o fato de que envolve viagem no tempo – cuja mecânica jamais é explicada com um mínimo de detalhes – se trata, “apenas” de uma narrativa de ação.
O uso de humor também se mostra uma questão problemática, eis que, ainda que não seja, em abstrato, ruim, quando mal utilizado, pode roubar a cena de uma maior carga dramática, situação essa que ocorre algumas vezes no longa. Outra questão relevante é o excesso de tempo, eis que conta com extensos 140 minutos de duração, sendo perfeitamente possível realizar um corte maior do produto final sem nenhum prejuízo.
Sendo assim, apesar do enorme potencial, A Guerra do Amanhã peca demais, não a ponto de se tornar um filme ruim, mas o sentimento final é de que poderia ter sido muito mais. Com um ótimo design de produção, em especial do alien, é uma interessante estreia de Chris McKay no cenário live-action, mas esperemos que, com um roteiro mais interessante em mãos, consiga alçar voos ainda mais altos.
[1] Perdão pela prepotência, mas Viva, Morra, Repita era um título infinitamente melhor.
[2] Não se defende, aqui, uma violência gratuita, desnecessária ou que, ainda, “glorifique” o confronto. Mas a falta dela impacta na crença da audiência dos perigos enfrentados pelos personagens.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.