Crítica | 007 – Sem Tempo para Morrer (007 – No Time to Die) [2021]

“James, você desistiu de tudo por ela. Quando o segredo dela descobrir o caminho, será a sua morte.”

Ernst Stavro Blofeld

Nota do filme:

007 – Sem Tempo para Morrer acompanha James Bond (Daniel Craig) em sua aposentadoria na Jamaica após se retirar do MI6, isolado da sua antiga vida. Contudo, quando Felix Leiter (Jeffrey Wright) busca a sua ajuda em uma missão perigosa, o herói entra em conflito com o perigoso Lyutsifer Safin (Rami Malek) e precisará, mais uma vez, retornar à ação.

Poucas franquias são tão icônicas quanto 007. Teve início ainda em 1962, com Sean Connery no papel principal de seu primeiro longa-metragem – Dr. No – e possui, hoje, um total de 25 filmes, superando grandes titãs da indústria como Star Wars, Harry Potter, bem como só agora, em 2021, sendo igualado pelo Universo Cinematográfico Marvel, que teve, em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, seu vigésimo quinto longa.

Dentre todas as encarnações do famoso espião britânico, é justo dizer que Daniel Craig foi um dos que melhor cravou o seu nome neste grande legado. Inicialmente recepcionado com certo receio por parte dos fãs, galgou os degraus necessários rapidamente com uma bela estreia em Casino Royale e, agora, encerra a sua jornada com Sem Tempo para Morrer e, se não é um encerramento perfeito, certamente é um encerramento emotivo.

Isto porque enquanto Spectre falhou em capitalizar nas obras anteriores, aqui, o roteiro dá grande foco no arco do personagem que perpassa os seus últimos quatro filmes. Nesse sentido, a “era Craig”, como iremos chamar, diverge das anteriores, motivo pelo qual, inclusive, entende-se que uma “despedida” era necessária.

Pois bem, como não poderia deixar de ser diferente, o envolvimento emocional de Bond no filme dá tom à trama, e o seu relaciomento com Madeleine (Léa Seydoux) pavimenta a narrativa e o coloca em rota de colisão com Safin, figura do passado de sua amada. Há, assim, maior peso à ação que ocorre no decorrer da história, não sendo meramente explosões e tiros desconexos.

Ao mesmo tempo, todos os aspectos técnicos do filme surpreendem pela beleza. Há um cuidado com o qual Cary Joji Fukunaga – que também coassina o roteiro junto a Neal Purvis e Robert Wade – modela a cena, com belos cenários e posicionamentos de câmera interessantes e inventivos. Há, também, “homenagens” aos 007s mais “clássicos”, com dispositivos elaborados e situacionais, um pouco menos “pé no chão”, como parecia ser uma tendência dessa geração – ao menos tão “pé no chão” quanto se pode ser em narrativas do gênero. E, claro, como não poderia deixar de ser, um encerramento de uma era não estaria completo se não houvesse um complicado e exagerado plano de dominação mundial.

Sempre é bom lembrar, também, que grande parte das cenas de ação sofrem dos tradicionais vícios que se poderiam esperar, como vilões incapazes de acertar o alvo ainda que a poucos metros de distância. O herói, é claro, não sofre de tais problemas, muito pelo contrário. Trata-se de um “erro” incorporado pela franquia que dificilmente incomodará aos seus fãs ou até mesmo o espectador tradicional.

O maior problema de Sem Tempo para Morrer, contudo, é o tratamento que dá ao seu grande vilão. A motivação, ainda que presente, jamais convence a audiência. Ao mesmo tempo, suas ações carecem de certa lógica, tornando seus movimentos um tanto quanto difíceis de se compreender – e não de uma maneira boa.

De toda forma, Sem Tempo para Morrer é um encerramento digno a Daniel Craig, que tanto entregou de sua vida a esse clássico personagem da ficção. Não se sabe como será o futuro da franquia daqui para a frente – há possíveis dicas neste longa que, infelizmente, não foram melhor trabalhadas – mas, é justo dizer que Craig elevou as expectativas para quem quer que venha a assumir esse manto.