Alias Grace: as aparências enganam

A minissérie “ Alias Grace”, produzida pela Netflix, e baseada no romance da escritora canadense Margaret Atwood (The Handmaid’s Tale), conta uma história de um crime real, e mais do que isso, diz respeito, também,  da condição de uma mulher inserida numa sociedade machista.

Aos quinze anos, Grace Marks (Sarah Gadon), é acusada, e chega a ser até condenada a prisão perpetua por ser cúmplice no assassinato brutal de seu patrão, Thomas Kinnear (Paul Gross), e da governanta da casa, Nancy Montgomery (Anna Paquin). Anos mais tarde, um médico psiquiatra Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft), é convidado a avaliar a saúde mental da jovem, a fim de conseguir descobrir quem realmente foi culpado, e anular a condenação. No julgamento , estão em jogo duas frentes fundamentais para tornar a história envolvente, e que se confundem: a verdade e a verossimilhança.

A personalidade dúbia de Grace junto aos diálogos inteligentes, fazem da protagonista muitas vezes mais analista do que o próprio médico que veio avaliá-la. As reflexões que ela propõe em seus diálogos podem facilmente ser transpostas para qualquer situação de nossas vidas, e nos fazem refletir para algo muito além do que apenas o julgamento em questão. Ela é quase Capitu, de Machado de Assis.  Assim como Capitu, que foi vista o tempo todo pelos olhos de bentinho, Grace sempre é vista pelos olhos cobiçadores de outros homens. Cada um teles tira a conclusão que lhes é mais conveniente da moça, mas sua “verdadeira faceta”, se assim pudermos chamar, que é o grande “X” da questão.   

O enredo, apesar de um pouco previsível, consegue seguir um caminho interessante e atrativo. Todo tempo, o espectador é provocado a sair da trama, e, na ânsia de se esquivar das investidas da personagem, é levado a enxergar a situação de diversos pontos de vista. 

No geral, a série nos oferece uma ambiguidade inquietante, que tenta desafiar o senso crítico do espectador, ansiando por uma conclusão imediata. Por isso, uma vez começado a assistir, talvez o espectador se encontre “maratonando” mesmo sem querer.  Outra coisa que pode ser um tanto frustrante, é o fato de ter apenas uma única temporada.