Crítica | Verónica (2017)

O gênero de terror é hoje um dos mais saturados da sétima arte. Mesmo com a infinidade de sub-gêneros, a repetição monotemática e visual costuma ser uma constante. Em busca do sempre certo lucro, os diretores e produtores costumam apostar na mesma “fórmula de sucesso”. Tomando tal afirmação como base, podemos concluir que o diretor espanhol, Paco Plaza, tem em sua filmografia algumas experiências que fogem do tal ponto comum, e outras que assimilaram o formato da mesmice. Em 2007, Paco dirigiu ao lado de Jaume Balagueró o filme [REC], uma das obras mais inventivas e assustadoras do sub-gênero de zumbi de todos os tempos. Os diretores, inclusive, retomaram o estilo de found footage – eternizado por A Bruxa de Blair (1999) – e usado à exaustão depois do sucesso de Cloverfield (2008). Entretanto, a dupla vislumbrou no sucesso de [REC] a chance de ganhar muito dinheiro. Com isso, alguns anos depois, saíram as sequências [REC] Possuídos (2009) e [REC]3 Gênesis (2012), filmes que só existem para aproveitar a onda de seu predecessor.

Em Verónica, filme dirigido somente por Paco, uma garota que está no auge de sua adolescência precisa cuidar diariamente de seus três irmãos mais novos enquanto sua mãe, na maior parte do tempo ausente, trabalha para sustentar a casa. A menina decide, junto de suas amigas, brincar com o famoso tabuleiro Ouija no porão de sua escola católica e acaba atraindo uma presença indesejada. O plot de filmes de terror envolvendo possessões e o tal tabuleiro já não é nenhuma novidade. O fato de utilizar a religião envolvida aos mistérios dos fatos decorrentes da experiência, também não. Contudo, Verônica é um filme que carrega elementos que o destacam dos demais.

Os artifícios visuais utilizados no filme são impressionantes e inventivos. O movimento de câmera é frenético e os enquadramentos envolvem elementos simbólicos, como a constante presença de cruzes e a utilização de reflexos para “contar” algo que está prestes a acontecer. Além disso, são utilizados diversos pedaços conceituais que corroboram a ousadia do design de produção. Um bom exemplo disso é a cena em que a protagonista passeia por entre as páginas de um livro, os muitos momentos em que a câmera rotaciona e tira o espectador de seu próprio eixo e os diversos trechos de imagem “rebobinada”, em que a cena acontece de trás para frente.

A trilha sonora utilizada no filme carrega diversas músicas da banda de rock Héroes del Silencio e outras dos anos 80 com arranjos sintéticos, lembrando bastante Corrente do Mal (2014), outro filme muito original do gênero horror. A transição da trilha diegética (o personagem escuta a mesma música que o público) para a extra-diegética (onde somente o público escuta a música), é muito bem feita e ajuda a construir a tensão de determinadas cenas – aqui, a escolha de tal transição é justificada e de fato tem algo a acrescentar à experiência.

No final, Verónica carrega diversos clichês que são novamente explorados, mas a pouca utilização de jump scares – algo sempre positivo – e a forma única como o diretor decide filmar, transformam a experiência em algo diferente do que a indústria está cansada de oferecer. E, como não poderia faltar em um bom filme de terror, o aviso de “baseado em fatos” está presente e explica que toda a história do filme é inspirada num boletim policial do ano de 1991. As fotos do ocorrido apresentadas nos créditos mostram que a fidelidade na construção do ambiente foi algo bastante considerado pela equipe, o que só transforma tudo em algo ainda mais sinistro e assustador.