Vamos chorar com This Is Us?

A matéria de hoje vai ser um pouco diferente, pois será escrita em parceria com um outro editor, o Victor Martins. Você já deve ter ouvido alguém falar da série This Is Us, mas se ainda não começou, vale a pena! A gente explica os motivos. Pra maratona dessa série você só vai precisar de três coisas: água, lenços para as lágrimas e coragem.

O casal de protagonistas, Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) são pais de três filhos, Randall, o filho adotivo e os gêmeos Kate e Kevin. Os dois atores interpretam personagens complexos, que já passaram por muita coisa e ambos fazem isso de uma maneira deslumbrante.

Rebecca Pearson é a mãe da família. Por mais que ela tente tratar os três filhos de maneira igual, Randall, o filho adotivo, acaba recebendo um pouco mais de atenção, o que no futuro afeta Kevin, um dos gêmeos. Sempre preocupada se está fazendo o certo por sua família, Rebecca acaba deixando a carreira de cantora um pouco de lado.

Jack Pearson é o pai e descrevê-lo é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Seu passado é turbulento, cheio de problemas familiares, por isso o maior objetivo do Jack é ser o pai e marido perfeito, coisa que ele faz muito bem! Nos momentos difíceis da infância e adolescência dos três filhos, Jack sempre tinha um conselho ou ensinamento que eles carregam consigo durante toda a vida adulta.

(Melhor pai do mundo)

The Big Three, esse é o nome dos três filhos da família Pearson. Kevin foi o primeiro a nascer e cresceu sendo o astro dos esportes. Kate, sua irmã gêmea, teve uma infância conturbada e sempre lutou contra o sobre peso. Já Randall nasceu no mesmo dia dos gêmeos, porém foi abandonado no corpo de bombeiros e acabou sendo adotado pela família Pearson.

E já que estamos falando dos gêmeos, é bacana reparar como o roteiro e a montagem – dois aspectos essenciais para a série funcionar – dão o mesmo tempo de tela para as três histórias, pois, apesar de interligadas, tem suas diferenças e particularidades. Acompanhamos a vida de ator de Kevin em Los Angeles e como esse é altamente dependente de Kate, que acaba de começar um relacionamento sério e busca por perspectiva na carreira, perspectiva que Randall já tem, mas mesmo assim, sempre procura crescer e criar novas concepções.

Graças a essa igualdade no roteiro, é possível notar como a série foi escrita para focar nos três irmãos e em seus respectivos interpretes, Justin Hartley, representando Kevin, é o irmão que aparenta ter menos problemas, mas lida com a frustração na carreira de ator – ele procura por papéis mais sérios do que a de sua já famosa série de comédia – com a depressão, alcoolismo e frustração na vida amorosa, assim como Kate (interpretada pela ótima Chrissy Metz), porém, além da vida amorosa citada agora e do sobre peso citado mais acima, Kate luta para ser a filha que a mãe sempre quis e pelo sucesso na carreira de cantora, que, em parte, está relacionado ao desejo de ser a filha idealizada pela progenitora.

Randall, representado por Sterling K.Brown, busca aprofundar o relacionamento com o pai biológico, descoberto recentemente por ele. Randall, ao contrário dos irmãos, já é bem sucedido na vida amorosa (casado e pai de duas lindas filhas) e na carreira (sócio de uma empresa de consultoria financeira). Porém, Randall luta para ser perfeito e devido a isso, sempre acaba tendo que lidar com a depressão e ansiedade, por achar que é um mal pai e por não conseguir conhecer o pai biológico, fato esse que o influenciou nas atitudes tomadas durante toda a vida.

Atitudes essas, que podemos ver nas cenas passadas nos momentos da infância e adolescência de cada um deles, isso é possível devido a montagem, que, aliada ao roteiro, facilita no desenvolvimento dos personagens, criando personas complexas, empáticas e justificando certas atitudes tomadas por estes no tempo presente. As passagens de um tempo a outro são realizadas ou por cortes secos após um forte momento dramático, ou por movimentos de câmera relacionados a um fato comum aos pais do Big Three e aos filhos.

Os movimentos de câmera são elegantes, pois se encaixam tanto na suavidade, quanto no peso dramático que a série carrega. As vezes, esses movimentos são leves, um travelling para o lado relacionando um objeto no passado a outro no presente e por outro lado, esses movimentos podem ser pesados, um travelling para frente relacionando um momento crucial no passado com outro no presente e vice versa, a série não se prende a relação “passado – presente”, mas também usa a relação “presente – passado”, principalmente em diálogos que envolvem Jack e com sentimentos comuns a ambas as linhas temporais.

É justamente por aliar de forma perfeita a sensibilidade com a técnica que “This Is Us” se torna uma série muito pessoal, mesmo que o espectador não se emocionem sempre nos mesmos momentos, em algum momento ele vai se emocionar, pois, como o próprio nome diz, somos nós, aquelas pessoas são nós e mesmo que não passemos pelas mesmas situações, se houver um minimo de empatia, o título se torna muito mais que um mero título.

“A vida é cheia de cor e cada um de nós chega e acrescenta a sua própria cor no quadro. E embora o quadro não seja muito grande, você tem que perceber que ele continua para sempre, em todas as direções(…)Não existe morte. Não tem você ou eu ou eles. Somos só nós. Essa coisa desleixada, selvagem, colorida e mágica que não tem começo e nem fim. Isso bem aqui…Acho que somos nós”

Ingrid Zamengo e Victor Martins