Crítica | Top Gun – Maverick (2022)

Nota do Filme:

Na sequência de Top Gun – Ases Indomáveis, Tom Cruise volta ao papel de Pete “Maverick” Mitchell mais de 30 anos depois de incorporar pela primeira vez o tenente da Marinha Americana, conquistador de sorriso fácil e extremamente habilidoso na aviação. A introdução de Top Gun – Maverick em pouco se difere do anterior, com música, ambientação e aeronaves partindo em direção ao céu, tal qual o original. Mas, as coincidências não param por aí, o roteiro não inova tanto até parte da história, mas depois o longa apresenta uma ideia de ameaça real, tendo em Maverick a possível salvação e, então, a obra ganha identidade.

Ao final do primeiro filme, Mitchell torna-se instrutor da escola de elite Top Gun, mas neste a realidade mudou e o antigo Tenente é agora o Capitão impulsivo, que atua como piloto de testes. Ele é convocado para retornar à Escola de Pilotos de Caça a fim de realizar uma difícil tarefa: treinar jovens pilotos para uma missão praticamente suicida. Maverick continua rebelde, impetuoso e passional ao passo em que sua incrível capacidade tem força para lhe livrar dos percalços em que se põe, além de contar com a ajuda de um velho e renomado amigo. O corajoso Capitão lida com questões do passado, com a liderança de uma equipe jovem em um complexo desafio e com um antigo romance que aflora novamente.

A obra entrega a parte técnica como prometido, as manobras dos aviões são muito mais inteligíveis e fáceis de compreender se comparado ao anterior, graças à qualidade dos efeitos práticos e reais. Como era de se esperar, o longa é bem servido de referências e menções ao predecessor e detalhes deste ganham vida no mais novo. A trilha sonora ajuda a trazer à memória o original e leva nostalgia ao espectador que apreciou a história fictícia do tenente impulsivo e romântico da Marinha dos EUA. O novo conta com algumas piadas e diverte o público e nisso se afasta da película de 86, que é bem mais séria. O filme também é bem servido de cenas de ação e o apelo romântico mais uma vez não falta no enredo.

A estrutura de ambas as obras se assemelha: o romance acontece de maneira forçada e mal construída, o modo como Pete retorna à Top Gun é o mesmo que ele vai no outro e o conflito causado pela competitividade entre os colegas militares ocorre de maneira gratuita da mesma forma anterior. Aqui muda a atividade exercida: o jogo de vôlei entre eles cede espaço a um jogo de futebol americano na praia, ocasião inclusive em que vemos corpos sarados e um Tom Cruise, quase sessentão, que fisicamente em nada deve aos atores mais novos.

Todavia, a partir do segundo ato, o longa se liberta da configuração antiga e conquista sua própria identidade. Não é fácil abrir mão de uma ideia que deu certo, mas Top Gun – Maverick usa todas as ferramentas que fez de Top Gun – Ases Indomáveis um sucesso, transformando-se em um clássico dos anos 80 e faz seu nome, criando uma narrativa autêntica, que deve agradar ao público fã do original e angariar novos adeptos à história fictícia do charmoso e imbatível piloto da Marinha Americana.

O protagonista tem oportunidade de amadurecer no antecedente e ele prova a mudança em algumas cenas, mas a rebeldia é inerente a sua natureza e isso se mantém, o que demonstra a boa caracterização da personalidade da personagem. A sequência tem a astúcia de trazer, dessa vez, uma ameaça real nos dias atuais e mesmo sem citar nome de país inimigo, nem qualquer guerra iminente, consegue deixar a trama plausível, causando um verdadeiro receio pela possibilidade do fracasso da missão.

Enquanto no primeiro os personagens concentravam-se na preparação para possíveis embates, em um período final da guerra fria, neste, a ameaça é concreta e o insucesso da tarefa pode significar a morte. É nessa toada que o protagonista tem chance de mostrar seu amadurecimento e revelar todo o seu potencial. Foi a interação com seu melhor amigo Goose (Anthony Edwards) que o fez ganhar responsabilidade e sua evolução culminou na perda desse amigo, que morreu ao seu lado em uma atividade prática. No atual, Maverick ainda tenta superar essa perda e o apelo emocional se personifica em Rooster (Miles Teller), que tem uma ligação com o amigo falecido de Mitchell.

Embora mantenha a estrutura, o atual se destaca com novos personagens que trazem carisma ao enredo. Jennifer Connelly faz o interesse romântico do protagonista e entrega uma boa atuação, apesar de existir basicamente apenas para compor o papel, sem muita relevância. Estrelas como Miles Teller e Jon Hamm possuem destaque e cumprem bem suas funções. As cenas de ação no céu, com aviões em rasantes e belas acrobacias, ajudam a proporcionar diversão e tornar o roteiro fluido, que possui ainda momentos empolgantes de tensão e até uma reviravolta que se adéqua bem à história.

O filme também contém instantes para além de nostálgicos, mas sentimentais, a fim de provocar a comoção no público e, com isso, deve atingir principalmente aqueles que conhecem bem a obra anterior. É, inclusive, essencial conhecê-la para uma experiência mais completa. Não há nada nessa sequência que indique uma continuação, todavia, se não levar mais 36 anos para ser lançado, um eventual terceiro longa ainda poderia facilmente contar com Cruise como protagonista, fazendo suas belas piruetas no ar, pilotando aeronaves de verdade e, quiçá, sem dublê, porque ele provou que ainda pode.

Top Gun – Maverick estreia em 26 de maio de 2022 nos cinemas.

Direção: Joseph Kosinski | Roteiro: Christopher McQuarrie, Peter Craig | Ano: 2022 | Duração: 137 minutos | Elenco: Tom Cruise, Miles Teller, Jennifer Connelly, Bashir Salahuddin, Jon Hamm, Charles Parnell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Jay Ellis, Val Kilmer, Danny Ramirez, Glen Powell.