A família Coppola talvez seja a mais produtiva do cinema. Temos Francis, diretor da trilogia “O Poderoso Chefão”, Sofia, que ganhou o premio de melhor Direção no ultimo Festival de Cannes, o ator Nicolas Cage, que sim, é um Coppola, Gia, também diretora, e agora Eleanor, esposa de Francis, que dirige “Paris Pode Esperar”, seu primeiro longa.
O filme conta a história de Anne, interpretada por Diane Lane, que, esposa de um produtor chamado Michael (Alec Baldwin), está saindo de Cannes, depois de acompanhar o festival. O marido tem que viajar a trabalho e a mulher volta a Paris com Jacques (Arnaud Viard), amigo do casal, em uma viagem de carro.
Claramente, pela breve sinopse acima, percebemos que se trata de um road movie. Na projeção, há diversos aspectos que o caracterizam assim, cenas longas passadas em um carro, paradas para reabastecimento e inúmeras conversas.
Mas, o diferencial está em como os aspectos técnicos são dispostos dentro do gênero “Road Movie”. A fotografia é quase durante todo o tempo de projeção (mais ou menos uma hora e meia), mantida através da luz natural de seus ambientes, o que facilita para o público enxergar a beleza das paisagens da França. O uso da cor azul é recorrente, seja o que está presente no mar e no céu, e também aquele que está presente nas roupas que os protagonistas usam, na mobília do quarto de hotel onde ficam, no carro que usam para a viagem, até mesmo em um figurante, o azul, sempre está lá, talvez querendo remeter a paz que os locais visitados levam ao casal principal.
A montagem é moderna, cheia de cortes secos, e disso podem ser tiradas duas coisas, a primeira, é querer mostrar a viagem realizada e os lugares visitados em detalhes, a segunda, é que, cada vez mais, as passagens de tempo são mais rápidas nos filmes, e isso demonstra o imediatismo da sociedade, que quer fazer tudo ser o mais efêmero possível, sem pensar no duradouro.
Esse imediatismo, é exposto nas diversas fotos que Anne tira com sua câmera fotográfica, para termos conhecimento dessas fotos, é usada a câmera subjetiva, e assim vemos as imagens do ponto de vista da personagem, e a critica a efemeridade está em ela tirar foto de tudo, desde a comida que vai comer, até a quina da pedra de um palácio histórico em Lyon. Tudo é registrado pela lente.
E nisso, vemos um conflito de doutrinas sociais contrarias, se Jacques quer aproveitar o momento, no seu devido ritmo, sem registrar nada através de aparelhos eletrônicos, escuta musica clássica e se veste de forma tradicional, Anne, usa frequentemente as redes sociais, escuta indie rock, usa roupas atuais e quer postar e compartilhar tudo. A obra mostra que viver em um equilíbrio é possível, e por isso a relação entre os dois personagens é tão bacana.
Mas, mesmo com essa boa relação, o fato de o filme não mostrar as legendas quando algo é falado em francês, mostra a exclusão que Anne sofre, e isso é causado, com exceção de uma ocasião, por personagens homens. Entendemos por isso, uma critica a sociedade machista na qual vivemos.
Contando com ótimas atuações de Diane Lane e Arnaud Viard, o filme de estreia de Eleanor Coppola tem ótimos momentos, alternando com alguns diálogos dispensáveis. Logo, a mais nova integrante de uma das famílias mais bem sucedidas no cinema, a realizar um filme, começa bem sua caminhada, há o que melhorar, mas, isso não afeta a ótima obra que foi o assunto desse texto.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com