Os 40 anos de Suspiria, uma das obras mais cultuadas de Dario Argento

Em 2017, “Suspiria” (idem, Itália) de Dario Argento completa 40 anos de idade. Quando lançado, o longa representaria uma virada interessante na carreira do seu diretor, que vinha de uma sólida tradição no Giallo (espécie de gênero, particularmente italiano e muito bem sucedido nas décadas de 60 e 70, que mesclava o horror e o policial numa ciranda violenta envolvendo, quase sempre, psicopatas traumatizados). Argento agora iria flertar agora com o sobrenatural e a fantasia, logo depois de conceber “Prelúdio Para Matar” – a quintessência do giallo – mas sem abrir mão da violência.

Suzy Bannion (Jessica Harper) é uma jovem bailarina que acaba de se matricular em uma nova escola de dança situada na Alemanha. Além de ter que se adaptar ao novo lugar, o que não se mostrará tão fácil, Suzy acaba se vendo no meio de insólitos acontecimentos envolvendo os professores e as alunas. Curiosa, Bannion resolve tentar entender o que está acontecendo, o que a fará desenterrar segredos bizarros que envolvem o passado do lugar.

As características do cinema argentiniano estão todas aqui: o apreço pela estética, enquadramentos quase lisérgicos, violência estilizada. Muito lembrado e cultuado hoje por seu visual barroco e peculiar, “Suspiria” é um estranho e fascinante exercício de estilo de Dario Argento onde o cineasta parece querer deixar a sua marca em cada fotograma, referenciando – e reverenciando – o maior expoente do cinema fantástico italiano: Mario Bava, em especial no uso das cores. A iluminação, por exemplo, claramente surrealista, reforça o clima de pesadelo e alienação, algo que Bava propôs em “O Ciclo do Pavor” de 1966, um de seus maiores trabalhos.

“Suspiria” é deslumbrante mas, lamentavelmente, acaba sofrendo com a  fragilidade de sua trama. Após um primeiro ato apoteótico e arrebatador, que culmina numa das mais malucas cenas de assassinato que o gênero de horror já concebeu, o filme vai perdendo o fôlego e as falhas de lógica apresentadas por um roteiro fraco vão se amontoando. A história parece andar em círculos (o que acentua certo problema de ritmo existente lá pela metade do longa), a protagonista é ingênua demais e há entrechos que não acrescentam muito ao todo. Sem falar que a transição do segundo para o terceiro ato ocorre de forma desconjuntada e pouco climática.

Entretanto, apesar de todos os problemas em seu miolo, “Suspiria” pode muito bem ser apreciado como um manifesto pictográfico único, uma vez que o importante aqui seja a composição sensorial dos quadros, bem como a sua textura e teor, tudo bem emoldurado pela deliciosa trilha sonora do grupo de rock progressivo Goblin, habituée de Dario Argento. É uma espécie de conto de fadas distorcido onde a atmosfera onírica, e de desconexão, não só pode justificar as lacunas como contribui para uma das composições imagéticas mais icônicas do gênero.