“Coraline e o Mundo Secreto” (2008) e “O Poderoso Chefinho” (2017), são animações que tem o foco em crianças, como quase todos os filmes que usam essa ferramenta, porém, apesar de histórias feitas para ensinar crianças sobre a sociedade, mesmo que elas não saibam disso, ambos os filmes têm um aspecto em comum.
No caso, esse aspecto é metafórico e diz respeito aos personagens principais, duas crianças completamente diferentes, Tim (em “O Poderoso Chefinho”) e Coraline (no filme de mesmo nome). Essas metáforas não são iguais, mas usam da imaginação fértil dos dois personagens para estabelecer as tramas de seus respectivos filmes.
Imaginação que faz parte do cotidiano das duas crianças citadas, Tim imagina brincadeiras em meio a um mundo que, para ele, é único, até que seu irmão chega e toda a sua vida, ao menos naquele momento, passa a ser uma aventura para aceitar seu irmão e entender que seus pais precisam dar atenção para os dois filhos de forma igual, mesmo que no começo isso seja difícil.
Coraline imagina essas mesmas brincadeiras, porém, em um mundo completamente diferente do mundo real, porque o lugar imaginário, é aquele no qual ela queria estar, já que ela vem descobrindo, com o passar do tempo, que o mundo real é cinza e vai ficar cada vez mais sem cor, na medida em que ela vai crescendo.
Tom McGrath e Henry Selick, diretores de “O Poderoso Chefinho” e “Coraline – O Mundo Secreto”, respectivamente, usam a imaginação para construir suas obras e para ensinar as crianças sobre questões da vida que são importantes, todas igualmente sérias, porém, com diferentes graus de seriedade.
Em “O Poderoso Chefinho”, Tim aprende que o mundo e seus pais não são apenas seus, que ele, com ou sem o irmão, precisa aprender a dividir e a ter empatia, para conseguir lidar com os problemas da vida adulta de maneira bem sucedida, ou seja, todas as brincadeiras com aquele bebê vestido de terno e toda a seriedade daquela situação, servem como prenuncio de uma vida adulta, que será conturbada como quase toda a vida adulta é.
Já em “Coraline”, há diversas situações em que a menina se encontra que, infelizmente são reais, mesmo que na projeção tenham sido passadas de forma fantasiosa, com o claro objetivo de facilitar a compreensão de seu público principal. Se toda a confusão no Outro Mundo (como ela chama o local imaginário) começa, é porque ela confiou em pessoas estranhas e desobedeceu sua mãe real, quebrando uma regra, se ela passou a sonhar com toda a vida que ela passa a ter no Outro Mundo, é porque ela não valorizava o que tinha no mundo real, porém, nesse caso é aceitável, já que o pais dela são negligentes e isso nos leva a outro ponto, que é como, para as crianças, nenhum adulto, a não ser os pais, pode ser de todo confiável, nunca se sabe das intenções.
Ainda em “Coraline”, as amizades são importantes para a resolução da trama, e este é outro ponto que o filme aborda, como é importante para a criança se relacionar com outras crianças da sua mesma faixa de idade, aprendendo coisas novas a todo momento e respeitando as diferenças que serão encontradas desde da tenra idade.
Portanto, se “Coraline – O Mundo Secreto” e “O Poderoso Chefinho” tem algo em comum, são as lições da vida adulta que são ensinadas para as crianças de forma orgânica, usando tramas envolventes e bem escritas, com personagens atraentes e metáforas bem construídas, que chamam a atenção de todo o tipo de público.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com